27/04/2018 - 18:00
O Prêmio Nobel é concedido anualmente desde 1901 pela Academia Sueca de Ciências e Artes para quem se destacou na literatura, economia, ciências e política e se tornou a honraria mais ambicionada do planeta. O Prêmio Nobel de Literatura é o mais desejado entre eles porque recebê-lo pode significar glória artística e vendagens permanentes de livros. Por isso, alguns críticos o chamam de “o Oscar sueco”. Diferentemente do prêmio de Hollywood, porém, o Nobel era cercado de credibilidade institucional. Mantido pela coroa sueca, convocava jurados e secretários permanentes de alta reputação, capazes de conservar o sigilo e se portar com ética, como representantes da Suécia.
Questão nacional

Desde o fim do ano passado, porém, o Nobel se viu envolvido em um escândalo sexual que o converteu em alvo do movimento #MeToo, promovido desde 2017 por estrelas de Hollywood para denunciar a prática de assédio sexual na indústria do entretenimento, na qual a literatura se insere. Em novembro, o site do jornal “Dagens Nyheter” (Notícias do Dia), o diário de maior circulação da Suécia, publicou a denúncia anônima de 18 mulheres por abuso sexual contra o fotógrafo Jean-Claude Arnault, de 71 anos, membro da Academia Sueca e marido da poeta Katrina Frostenson, integrante do júri do Nobel de Literatura. Arnault mantinha um clube literário, o Forum, que funcionava nas sedes da Academia em Estocolmo e Paris. Ali, diz a denúncia, ele atacava mulheres que participavam das conversas literárias. A conduta de Arnault extrapolava o avanço sexual. Ele também foi acusado pelas vítimas de vazar aos sites de apostas os resultados do prêmio desde 1996.
A Academia Sueca finalmente assumiu a responsabilidade pelo caso na quinta-feira, 19 de abril, por iniciativa de Sara Danius, secretária permanente do Nobel e simpática ao #MeToo. Ao mesmo tempo que tornou pública a situação, ela e quatro membros do júri pediram demissão em protesto à conduta de alguns membros do comitê. “Esse caso já afetou gravemente o Prêmio Nobel, e isso se tornou um grande problema”, disse Sara Danius aos jornalistas que a esperavam na saída da sede da Academia. Embora Arnault negue as acusações, sua mulher se viu obrigada a se exonerar da Academia.
O escândalo põe em risco a divulgação e entrega dos prêmios neste ano. Os jurados remanescentes pensam em conceder dois prêmios no ano que vem, referentes a dois anos. Eles prometem reestruturar a Academia. O caso virou uma questão nacional. O primeiro-ministro sueco Stefan Lofven não aprova a ideia de suspender a entrega do prêmio. Ele afirmou que a obrigação da Academia é restaurar a confiança e o respeito. “É importante para a Suécia que a instituição funcione”, afirmou.