09/12/2022 - 9:30
A descoberta de compostos à base do elemento químico carbono na superfície de Marte, recentemente anunciada pela Nasa, pode ajudar os cientistas a elucidar questões sobre as quais eles se debruçam há anos. Estamos sozinhos no universo? Há vida em outros planetas?
O carbono faz parte da receita química da vida tal qual a conhecemos, e a confirmação da sua presença em Marte é uma pista a mais nas pesquisas da missão Mars Science Laboratory (MSL), da Nasa, que há havia encontrado indícios de um passado aquoso naquele planeta.
Se a incursão anterior da MSL, com o rover espacial Curiosity, confirmou que a existência prévia de um rio em Marte, agora o rover Perseverance auxilia na colheita de amostras de rocha marciana com compostos orgânicos. “O objetivo desta missão é seguir o carbono”, explica Ivair Gontijo, cientista brasileiro que trabalha como engenheiro na Nasa. “A missão anterior, do Curiosity, era seguir a água”.

A coexistência desses dois elementos, água e carbono, em tese viabilizaria o surgimento de formas primitivas de vida. “A gente já sabia que lá teve um rio com água líquida, estável, por milhões de anos”, diz Gontijo. “Agora nós descobrimos compostos orgânicos complexos dentro de rochas sedimentares que foram formadas no fundo do leito desse rio”, comemora. “Tudo o que há de vida na Terra, plantas, animais, insetos, é carbono vivente; nossos corpos são formados majoritariamente de carbono”. De acordo com ele, milhões de anos atrás, Marte era muito parecido com a Terra. “E se a vida se formou em Marte também, é bem possível que tenha sido com carbono”.
O próximo passo da missão é trazer para a Terra essas amostras de rocha para que os estudos possam ser devidamente aprofundados. De acordo com o cientista, esses avanços nas pesquisas permitem que a Ciência caminhe na direção de responder se houve vida em Marte – e se não houve, por qual razão. Mas como teriam sido essas criaturas? “Provavelmente seres unicelulares ou ainda colônias bacterianas”, explica. “Diferentemente do que ocorreu na Terra, Marte secou completamente; e a vida que começou a se formar lá não foi pra frente”. Se houver provas inequívocas da existência de seres vivos em Marte, diz o cientista, seria um enorme avanço científico. “O Universo pode estar cheio de vida”. Agora é aguardar pelas próximas etapas da pesquisa.