01/03/2019 - 9:30
Depois de sete anos de precariedade, o Brasil conseguiu voltar a fincar bases sólidas na Antártica. Desde 2012, quando a Estação Comandante Ferraz pegou fogo e foi quase totalmente destruída, matando dois militares, o país mantinha apenas uma estrutura provisória no continente. Agora, uma nova estação moderna e futurista, com capacidade para receber 64 pessoas em excelentes condições de conforto e segurança, foi erguida pela Marinha e será inaugurada oficialmente no próximo verão. Uma das consequências imediatas da iniciativa é que o trabalho científico na região tende a ser facilitado e evoluir com mais rapidez. Pesquisas importantes sobre ciência do solo, química da atmosfera, oceanografia biológica e até psiquiatria são realizadas na Antártica. Desenvolver trabalhos de investigação científica é condição fundamental para que o País possa requerer os direitos de explorar, no futuro, as riquezas locais – 70% das reservas de água doce do mundo, por exemplo, estão congeladas na Antártica. O Tratado Antártico, ao qual o Brasil aderiu em 1975, exige que seja realizada “substancial atividade de pesquisa” para manter o direito de voto nas deliberações sobre o uso do continente.

A construção da base, que ficou a cargo da empresa chinesa Ceiec, envolveu um processo de transferência de tecnologia de construções em lugares inóspitos para a Marinha. Projetada pelo escritório de arquitetura Estúdio 41, de Curitiba (PR), a obra custou US$ 99,6 milhões. Para erguê-la foram utilizados 226 contêineres pré-montados em Xangai, que compuseram três blocos independentes. Com o objetivo de evitar o contato direto da estrutura com o solo permanentemente congelado e sujeito a abalos sísmicos, a estação foi suspensa sobre 54 pilares de aço de alta resistência e suas fundações chegam a 28 metros de profundidade. Ela é capaz de resistir a ventos com velocidade de até 200 km/h. “A reconstrução da Comandante Ferraz representa o início de uma nova era de pesquisas na região”, afirma o capitão de Mar e Guerra Paulo César Galdino de Souza, fuzileiro naval e subsecretário do Programa Antártico Brasileiro (Proantar). “A estação está equipada com laboratórios no estado da arte e com telecomunicações de alta qualidade que permitirão que os pesquisadores enviem os seus dados e se comuniquem com seus laboratórios no Brasil”.
Mais recursos
A estação Comandante Ferraz foi instalada na Antártica em 1982, no mesmo ano em que foi criado o Proantar, e incluiu o Brasil em uma lista de 30 países que têm centros de investigação científica no continente. Pesquisadores reclamam que a construção da nova base não está sendo acompanhada de empenho para a ampliação dos recursos para a pesquisa brasileira na região e que o Proantar está ameaçado de interrupção por falta de dinheiro. A Marinha informa que não controla essas verbas e que, no decorrer de 37 anos de operação da estação, o Brasil realizou mais de 365 pesquisas ligadas ao estudo da biodiversidade e do ecossistema antártico, além de investigações sobre as mudanças climáticas e sobre organismos extremófilos, que são capazes de viver em condições extremas. “A nova estação é estrategicamente muito importante porque permitirá que, a partir de agora, façamos a pesquisa in situ, no próprio local, sem necessidade de trazer amostras para a universidade”, diz a professora do Instituto Oceanográfico Vivian Pellizari, que passou novembro e dezembro do ano passado fazendo suas pesquisas de microbiologia na Antártica, a bordo do navio Almirante Maximiano. “Mas ainda existe um gargalo que está sendo discutido no projeto, que é a questão do financiamento da ciência”.