O solado internacionalmente, o presidente russo Vladimir Putin resolveu dobrar a aposta. A Rússia deslocou milhares de soldados para a fronteira com a Ucrânia, e também enviou navios de guerra para o Mar de Azov, revivendo o fantasma de uma intervenção militar no país. A escalada das tensões ocorreu após confrontos entre soldados ucranianos e separatistas na cidade de Donetsk, no leste ucraniano, em meados de abril. Segundo o governo ucraniano, as provocações partem dos separatistas pró-Rússia, que desde 2014 dominam duas regiões na bacia do rio Donets. Já a Rússia desconversou. Declarou que as movimentações de soldados e navios fazem apenas parte de “manobras militares”.

Entenda o conflito

2014
Tropas russas invadem a Ucrânia e Moscou anexa a Península da Crimeia, enquanto separatistas pró-Rússia iniciam a rebelião em duas províncias na bacia do rio Donets
2015
Rússia e Ucrânia assinam o Protocolo de Kiev, segundo o qual a autonomia dos separatistas seria reconhecida
2021
O governo russo desloca milhares de soldados para a fronteira com a Ucrânia e navios de guerra para o Mar de Azov

A movimentação russa é encarada no Ocidente como uma tática de Putin de pressionar a Europa e os EUA para obter vantagens em futuras negociações. “No fundo, existe bastante retórica. É uma estratégia que ele executa com frequência. Aumenta a pressão, para depois negociar a partir de uma posição de força”, diz Gunter Rudzit, professor de Relações Internacionais da ESPM. A ameaça é levada a sério. O governo americano alertou novamente Moscou a não atacar a Ucrânia. “Assistimos à maior concentração de tropas russas perto da Ucrânia desde 2014. Existe uma profunda preocupação não só na Ucrânia, mas também nos Estados Unidos”, disse Antony Blinken, secretário de Estado americano. O presidente Joe Biden, por seu lado, reafirmou “o inabalável compromisso de Washington com a soberania e a integridade territorial da Ucrânia”, em uma conversa com o russo no último dia 14.

Em seu discurso anual à nação russa, Putin respondeu na noite de 20 de abril: “Eu espero que ninguém pense em cruzar as linhas vermelhas contra a Rússia, que nós mesmos vamos definir. Se confundirem boas intenções com fraqueza, a resposta da Rússia será simétrica, rápida e dura” afirmou.

Biden reage à escalada da Rússia e Putin adverte o Ocidente

O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, conviou Putin no mesmo dia para uma reunião na região em conflito no leste do país. O Kremlin não respondeu. A Rússia e os separatistas acusam o governo ucraniano de não cumprir o chamado “Protocolo de Kiev”, assinado em 2015. Segundo esse acordo, que estabeleceu o cessar-fogo na região do Donbass, a Ucrânia se comprometeu a dar autonomia às duas províncias separatistas na bacia do rio Donets.

“Não interessa à Rússia invadir a Ucrânia. A saída é uma negociação, supervisionada pela Europa, para uma efetiva autonomia às províncias do Donbass”, avalia o professor da ESPM. Segundo ele, dificilmente a Otan aceitará o pedido de adesão da Ucrânia, apesar do desejo dos ucranianos de se apoiarem na segurança ocidental. Isso colocaria a aliança militar em uma disputa aberta com Moscou. Como Putin mantém sua liderança escorado na imagem do antigo poderio russo, é de se esperar novas tensões na região. E a gestão Biden terá mais essa dor de cabeça na frente internacional.