22/07/2022 - 9:30
Os próprios italianos chamaram a quarta-feira, 20, de “dia louco”. O primeiro-ministro Mario Draghi, que teve pedido de renúncia negado pelo presidente Sergio Mattarella, foi ao Parlamento, agradeceu o apoio popular e avisou que ficaria no cargo se fechado um novo pacto de união. A alusão era ao racha provocado pelo Movimento 5 Estrelas (M5S), que não aprova o pacote proposto por ele, que incluía a construção de uma usina de lixo não sustentável em Roma. Na passagem de Draghi pelo Senado, o bate-boca contagiou parlamentares, o que se poderia esperar também da incursão à Câmara.
São muitos os desafios da Itália, pela difícil recuperação econômica e crise energética. Se a relação dívida pública/PIB é um dos indicadores da saúde de um país, o economista Roberto Dumas, professor do Insper, lembra que na Itália essa dívida hoje representa 140% do PIB (e previsão de chegar a 150% ou mais ainda em 2022). E a saída de Draghi agravaria a situação.
Eduardo Fayet, professor de Relações Institucionais do Mackenzie, diz que entre 2011 e 2019, quando Draghi foi presidente do Banco Central Europeu (BCE), Alemanha, França e Espanha cresceram economicamente. O que não ocorreu com a Itália, hoje a segunda maior dívida interna da Europa, em torno de 2,7 trilhões de euros, só perdendo para a Grécia. Trata-se da terceira economia do continente, atrás apenas de Alemanha e França, observa, destacando a situação como a de “um elefante na loja de cristal”.
Uma crise que se acentue na Itália tem potencial para agravar a situação de toda a Europa, já perto da recessão. O país preocupa Christine Lagarde, presidente do BCE, que deve anunciar nos próximos dias uma alta de 0,5% na taxa de juros no bloco. Dumas lembra que a inflação em alguns países já bate nos 10%.
Na Itália, o acordo por um novo governo depende da anuência do Lega, partido de extrema-direita, e do Forza Itália, de centro-direita, sob o comando de Silvio Berlusconi, além do M5S, populista e antissistema. Dragui pode confirmar a renúncia, o que abriria caminho para a indicação de um novo premiê ou até mesmo à convocação de novas eleições. Com Draghi ou não, o país precisa promover reformas. Não apenas para melhor a gestão, mas também para evitar piora da situação interna, com o rebote da reconfiguração econômica da Europa.