14/02/2019 - 20:30
 Depois de ter alta do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde se recuperava da cirurgia para a retirada da bolsa de colostomia, o presidente Jair Bolsonaro inverteu a lógica aeronáutica. Embarcou em São Paulo, fez um voo tranquilo e desembarcou na turbulência. O retorno à Brasília para ocupar a Presidência da República parece da mesma forma inverter a lógica da política. Bolsonaro tem à frente como principal missão aprovar a reforma da Previdência, algo que exige quorum qualificado em duas votações na Câmara e no Senado e que já esbarrou em problemas num passado recente. Ou seja: ele deveria buscar um ambiente de união na sua base. Ao contrário, o presidente acionou a usina de crises via redes sociais alimentada por seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro. Ao descer na capital federal na quarta-feira 13, Bolsonaro, com a ajuda de Carlos, torrava em fogo altíssimo seu ministro da Secretaria Geral, Gustavo Bebianno.
Depois de ter alta do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde se recuperava da cirurgia para a retirada da bolsa de colostomia, o presidente Jair Bolsonaro inverteu a lógica aeronáutica. Embarcou em São Paulo, fez um voo tranquilo e desembarcou na turbulência. O retorno à Brasília para ocupar a Presidência da República parece da mesma forma inverter a lógica da política. Bolsonaro tem à frente como principal missão aprovar a reforma da Previdência, algo que exige quorum qualificado em duas votações na Câmara e no Senado e que já esbarrou em problemas num passado recente. Ou seja: ele deveria buscar um ambiente de união na sua base. Ao contrário, o presidente acionou a usina de crises via redes sociais alimentada por seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro. Ao descer na capital federal na quarta-feira 13, Bolsonaro, com a ajuda de Carlos, torrava em fogo altíssimo seu ministro da Secretaria Geral, Gustavo Bebianno.
É sobre Bebianno, antigo comandante do PSL, o partido do presidente, que recaem as principais suspeitas pela montagem de um esquema de laranjas — a mais vistosa é Fabrício Queiroz, o ex-motorista do senador Flávio Bolsonaro, que segue desaparecido e sem dar explicações. Na última semana, a Folha de S. Paulo publicou mais uma face desse esquema ao revelar que o partido destinara R$ 400 mil para a campanha de Maria de Lourdes, uma candidata a deputada estadual que obteve apenas 300 votos. O rastreio do dinheiro chegou na contratação de uma gráfica de fachada.
Bebianno parece ter muito a explicar no novo caso. E se Bolsonaro o considera responsável pelo rolo, deveria tê-lo demitido. Afinal, uma das características que a sociedade parece ter enxergado no presidente era a autoridade. Mas preferiu o caminho de fritura do ministro com a ajuda do filho Carlos. Acuado, na quarta-feira 13, Bebianno tentou diminuir a pressão sobre ele dizendo que tinha conversado com o presidente no hospital sobre a situação e que tudo estava esclarecido. Para surpresa dele e do País, Carlos Bolsonaro reagiu violentamente à declaração. Postou nas redes sociais que era uma “mentira absoluta” que Bebianno tivesse conversado com o presidente. Seguindo a surpresa, publicou um áudio em que Bolsonaro despacha Bebianno e se recusa a falar com ele. A capacidade de surpreender não parou aí. Na sequência, o próprio Jair Bolsonaro publicou na sua conta pessoal do Twitter a postagem de Carlos Bolsonaro, endossando o que o filho dissera.
Mais tarde, o próprio presidente, em entrevista à TV Record, disse que, se for comprovada a responsabilidade de Bebianno, não haverá outra alternativa senão o ministro “voltar às origens”. E determinou que a Polícia Federal investigasse o episódio. Na manha de quinta-feira 14, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, comunicou que o pedido será atendido. Se era uma senha para que Bebianno pedisse demissão, ele próprio não atendeu. Permanecerá no cargo.
O PSL ficou desnorteado. Bebianno foi o braço direito de Bolsonaro durante a campanha e, mais do que ninguém, é ele quem sabe como se distribuíram os recursos que elegeram os parlamentares que compõem a base do partido. Bebianno disse a amigos estar magoado com a forma como o presidente e seu filho o expuseram. No Congresso, parlamentares do PSL tentavam entender a tática usada para a fritura de Bebianno. “Filho de presidente é filho de presidente”, criticou a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP). “Temos que tomar cuidado para não fazer puxadinho da Presidência dentro de casa para expor um integrante do governo dessa forma”, continuou. “Governo é governo. Família é família”, reforçou o líder do governo, Delegado Valdir (GO).
O problema para o presidente é amainar essa turbulência diante da complicada tarefa de aprovar a reforma da Previdência e dar curso às demais demandas que terá de enfrentar (leia mais no quadro). Uma coisa, porém, é consenso sobre seu governo. Ele é emocionante. Desnecessariamente emocionante.
 
  