Elizabeth Alexandra Mary se tornou Rainha porque o tio apaixonou-se por uma plebéia. Foi assim: chamaram a garota de 25 anos para assumir a coroa do Reino Unido após a morte de seu pai. E ele, George VI, só havia chegado a Rei porque o irmão, Edward III, abdicou do trono para se casar com a divorciada americana Wallis Simpson. É este o começo da história de Lilibeth, que se tornaria Rainha Elizabeth II.

EXPOENTES Winston Churchill, Margaret Thatcher e Tony Blair: habilidade política (Crédito:Divulgação)

Filha mais velha do Duque e da Duquesa de York – Albert e Elizabeth, nascida em Londres a 21 de abril de 1926, deve ter sido uma menina espevitada, no mínimo, pela descrição do primeiro-ministro Winston Churchill, que a conheceu criança: “Uma figurinha, com ar autoritário e propensa a reflexões”. Com a subida ao trono do tio e depois do pai, esperava-se um menino para herdeiro presuntivo. Mas a família só teve filhas: Elizabeth e a caçula Margareth. Assim, o destino da primogênita começou a ser traçado.

Lilibeth estudou com tutores do Eton College e governantas francesas. Durante o reinado do pai, a família formou um batalhão oficial de “garotas bandeirantes” no Palácio de Buckinham, para que as meninas da família “se socializassem” com outras da mesma idade. Lilibeth caía no choro quando os pais viajavam para países distantes —- “aqueles do Império onde o sol nunca se põe” —-, porque queria ir junto.

Com a entrada do Reino Unido na Segunda Guerra Mundial, em 1939, e Londres sob bombardeiros, a Rainha-mãe se recusou a enviar as duas princesas para o Canadá, dizendo que não iria deixá-las, e nem o marido. Assim, foram parar no Castelo Balmoral, na Escócia, até a volta ao Castelo de Windsor em 1940, quando Lilibeth estava com 14 anos e fez sua primeira transmissão de rádio em um programa da BBC dirigido a crianças evacuadas pela guerra.

Ao completar 18 anos, uma lei britânica foi alterada para que ela pudesse atuar como um dos cinco Conselheiros de Estado, em caso de faltar o Rei, seu pai, por causa da Segunda Guerra. E ela viajou para a Itália, onde atuou no Serviço Territorial Auxiliar da frente de combate, já treinada como mecânica e motorista de caminhões. Em 1945, compareceu à comemoração pelo Dia da Vitória nas ruas de Londres ao lado da irmã Margareth, “apavorada” — como contou — por temer ser reconhecida em meio à euforia das multidões.

O casamento com o primo de segundo grau Philip, Príncipe da Grécia e da Dinamarca, foi em 1947. Ela estava com 21 anos e contou que havia se apaixonado por ele ainda aos 13 anos, em encontro no Real Colégio Naval de Dartmouth. Mal visto pela família real britânica, o namorado sem dinheiro que havia servido na Marinha Real durante a guerra era chamado pela sogra de “Huno”.

Quatro anos depois, a a saúde de George VI se deteriorou e ela e Philip foram informados de sua morte quando estavam no Quênia. Aos 25 anos, Lilibeth seria coroada Elizabeth II. Perguntaram, pela tradição, por qual nome gostaria de ser chamada. Ela respondeu: “Pelo meu, claro”. E assim, gloriosamente, os britânicos ganharam uma Rainha que se tornou um ícone mundial, não apenas pelo lado social e político, mas também pelo discreto carisma que manteve o Reino… Unido.

De Churchill a Liz Truss
Rainha conviveu com 15 primeiros-ministros

Mais longeva monarca da história do Reino Unido, a rainha Elizabeth II teve seu reinado marcado pela atuação de 15 primeiros-ministros que se reuniam com ela em audiências semanais durante seus anos no governo. O primeiro foi Winston Churchill, nascido 101 anos antes da última, Liz Truss, empossada na terça-feira, 6. Churchill, primeiro-ministro em exercício quando ela foi coroada, ficou conhecido por sua atuação durante a Segunda Guerra Mundial, e estava em seu segundo mandato quando o pai de Elizabeth, o rei George VI, faleceu. Durante esse período desenvolveram uma relação de amizade que durou até Churchill renunciar aos 80 anos. O último ato político da rainha foi empossar Liz Truss.

Margaret Thatcher a “Dama de Ferro” foi a primeira mulher a se tornar premiê do Reino Unido, e governou entre 1979 e 1990. Durante seus 11 anos de governo, enfrentou forte resistência da oposição. O relacionamento entre ela e a rainha foi descrito muitas vezes como “complicado”. Uma das áreas de atrito entre ambas era a devoção da rainha à Comunidade Britânica. Elizabeth conhecia bem os líderes da África e tinha simpatia por suas causas. Tony Blair, que esteve no cargo até 2007, foi creditado por persuadir a rainha a prestar homenagem à princesa Diana após a morte dela, em 1997. Foi Blair quem usou pela primeira vez a descrição “princesa do povo” para se referir à Diana. O penúltimo ocupante do cargo, Boris Johnson, ressaltou diversas vezes que tinha boa relação com a rainha apesar de o governo dele ter sido marcado por algumas polêmicas. Em janeiro, por exemplo, pediu desculpas a Elizabeth II depois que sua equipe realizou uma festa na véspera do funeral do marido dela, o príncipe Philip, em 2021, em plena pandemia. (Mirela Luiz)

Grandes momentos do reinado

 

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NA CHINA
Elizabeth II foi a primeira dos monarcas britânicos a visitar o país asiático, em 1986, antes da soberania sobre Hong Kong ser repassada à China, no ano seguinte. Esteve na Muralha, viu os guerreiros de terracota e engoliu ao ouvir Philip dizer que Pequim era “horrível”.

‘ANO HORRÍVEL’
Foi como Elizabeth II se referiu a 1992: um ano horrível, pelo casamento de Charles que se desgastava; os outros dois filhos, Andrew e Anne, se divorciaram. E um incêndio queimou mais de 100 quartos do Castelo de Windsor.

OURO
Foi a primeira, depois da Rainha Vitória, a chegar ao Jubileu de Ouro. Nesse 2002, visitou dezenas de cidades no Reino Unido e deu voltas pelo mundo. Mas, ao completar esse meio século de reinado, sofreu com a morte da Rainha-mãe e da irmã caçula Margaret.

BISNETO
Filho do Príncipe William, seu neto, e de Kate Middleton, que se casaram em 2011, Elizabeth II recebeu seu primeiro bisneto, o Príncipe George Alexander Louis de Cambridge, em 2013. George é destinado a se tornar Rei, como terceiro na linha de sucessão, depois do avô e do pai.

PLEBEIA
“Segundo neto”, o Príncipe Harry abalou o Reino Unido ao optar pela americana Meghan Markle como esposa, em 2018. O casal acabou deserdado pela Rainha, depois de se mudar para a Califórnia, onde teve o filho Archie, em 2019.

VIÚVA
A morte do Príncipe Philip, em 2021, aos 99 anos, pode ter acelerado os problemas de saúde de Elizabeth II, que se tornou viúva depois de 73 anos. A cerimônia fúnebre, por causa da pandemia de Covid-19, teve apenas