03/06/2022 - 9:30

Acerca de 24 quilômetros da capital do Egito, Cairo, arqueólogos encontraram o que especialistas estão chamando de “uma das maiores descobertas do século XXI”. São ao todo 250 antigos sarcófagos egípcios, com múmias intactas e 150 estátuas de bronze de divindades antigas em diferentes tamanhos, entre elas Anúbis, Amon, Min, Osíris, Ísis, Nefertem, Bastet e Hathor. Também foram catalogados vasos de bronze, provavelmente utilizados em rituais para a deusa Ísis, responsável pela fertilidade na Antiguidade. Estima-se que os objetos foram feitos em 500 a.C – ou seja, há cerca de 2,5 mil anos – e estão em perfeito estado de conservação. O tesouro encontrado foi exposto aos pés da pirâmide de Djoser, em Saqqara, antiga necrópole da cidade de Mênfis, na última segunda-feira, 30. Os achados fazem parte da quarta temporada de escavações desenvolvidas no sítio desde 2018, ação que tem colhido materiais de valor incalculável para a história do Egito antigo, além de movimentar um novo polo de turismo para o país.
O secretário-geral do Conselho Supremo de Antiguidades, Mostafa Waziri, disse em nota divulgada pelas redes sociais que outra descoberta importante foi feita durante as explorações, uma vez que as múmias encontradas estavam em poços funerários. Dentro deles foram reveladas duas estátuas de madeira das deusas Néftis e Ísis, de um período anterior aos demais objetos. Havia também um caixão lacrado, em ótimas condições, contendo um papiro de nove metros e escrito em hieróglifos, onde se acredita que tenham novos capítulos do Livro dos Mortos – manuscrito composto de orações, feitiços, discursos e desenhos. O documento era enterrado pelos antigos egípcios com os falecidos no intuito de ajudar em sua “jornada para a vida após a morte”. “Essa descoberta vai acrescentar mais conteúdo e interpretações para as origens desse livro. Vai nos ensinar ainda mais sobre como eles aprenderam os procedimentos químicos para a preservação de corpos, o que acaba abrindo um leque gigante para uma série de novas descobertas e explorações”, afirma Victor Missiato, professor de história do colégio Mackenzie. A publicação milenar foi transferida para o laboratório do museu egípcio da praça Tahrir, no Cairo, para ser restaurada, estudada e desvendada.


A volta do turismo
Uma das centenas de estátuas encontradas é a do arquiteto, vizir e médico Imhotep, inventor da construção de pedra talhada que revolucionou a arquitetura do mundo antigo. “Encontrar a tumba de Imhotep é um dos principais objetivos dessa missão arqueológica, que já completa quatro temporadas”, explicou Waziri. O secretário assinalou que todos os sarcófagos serão levados para o novo Grande Museu Egípcio, perto do planalto de Gizé, local que será inaugurado ainda este ano após muitos adiamentos. Entre os achados, há também uma coleção de cosméticos que incluem recipientes de Kohl, a tinta negra usada como maquiagem ao redor dos olhos, além de pulseiras e brincos.
Considerado patrimônio mundial pela Unesco, o sítio arqueológico de Saqqara vem fornecendo um fluxo constante de descobertas nos últimos anos. Isso é ainda mais surpreendente quando lembramos que esse notável conjunto arquitetônico do Antigo Egito esteve coberto por areia até a metade do século 20. No início da Era dos Faraós, Saqqara foi parte da capital do Egito e, após perder o posto, tornou-se uma cidade de grande importância religiosa, além de possuir uma das mais significativas necrópoles do país.
Com tantos achados arqueológicos, o Ministério do Turismo e das Antiguidades aposta na região para resgatar o fluxo de turismo afetado desde os protestos da Primavera Árabe, em 2011, e prejudicado ainda mais pelos dois anos de pandemia. O setor emprega cerca de dois milhões de pessoas e é responsável por mais de 10% do Produto interno Bruto (PIB) do Egito. Durante a pandemia, o país perdeu US$ 1 bilhão por mês em razão das suspensões de voos e do fechamento dos principais locais de visitação. Outro obstáculo recente é o conflito entre Rússia e Ucrânia, visto que os russos eram os principais visitantes da região, com cerca de dois milhões de turistas por mês.