02/12/2022 - 9:30
Passado mais de um mês da proclamação do resultado das urnas, no dia 30 de outubro, bolsonaristas inconformados com a derrota seguem acampados na porta dos quartéis pedindo intervenção militar na tentativa de impedir a posse de Lula em seu terceiro mandato.
Um dos casos mais graves, no entanto, vem de dentro do próprio Palácio do Planalto. Lotado no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o militar da ativa Ronaldo Ribeiro Travassos, sargento da Marinha, fez circular áudios e vídeos incentivando os atos andidemocráticos em frente aos quartéis — e chegou a dizer que “Lula não subiria a rampa”. Apesar da gravidade das ameaças, até o momento ele não foi punido. A responsabilidade é do Ministério Público Militar, que não tomou nenhuma providência imediata.

Nas estradas que cortam o País, não fossem as medidas judiciais tomadas pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, no sentido de desobstruir as pistas, o País estaria totalmente paralisado, já que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) tem sido conivente com a ação dos manifestantes. Mas em alguns estados as manifestações antidemocráticas continuam trazendo prejuízos para a população.
Embora em número cada vez menor, continuam vindo à tona casos emblemáticos das consequências desses bloqueios de vias. No último domingo, 27, na divisa entre o Pará e o Mato Grosso, um atentado a tiros atingiu pelo menos seis caminhões de um comboio pertencente a uma empresa do ex-ministro da Agricultura Blairo Maggi. Um dos maiores produtores de soja do País, o ex-ministro tem a simpatia de Lula.
Na BR-163, também no Mato Grosso, manifestantes impediram a passagem de um pai que precisava levar o filho de nove anos até a capital, Cuiabá, para uma cirurgia oftalmológica de urgência. Em Goiás, a interdição de uma via pública impediu o transporte de um coração que seria transplantado num paciente em São Paulo. Em Rondônia, manifestantes destruíram uma adutora com uma escavadeira, deixando parte da população da cidade de Ariquemes sem água.

O ânimo dos extremistas que tentam convulsionar o País por meio do bloqueio de vias estratégicas persiste. Mas em resposta a isso, pelo menos no âmbito do Ministério Público Federal (MPF), vem crescendo o número de medidas judiciais que visam à punição dos envolvidos em episódios de violência e depredação. No Mato Grosso, estão presos preventivamente três acusados de atear fogo a pneus na BR-163. Eles são investigados pela prática dos crimes de atentado contra a segurança de meio de transporte e também por tentativa de homicídio qualificado, já que receberam a tiros policiais militares que tentavam desobstruir a rodovia. Antes disso, dois outros manifestantes já haviam sido presos no estado por terem ateado fogo a dois caminhões estacionados ao longo da via. Já no Pará, seis pessoas foram presas sob a acusação de tentativa de homicídio qualificado, após receberam a tiros, pedradas e disparos de rojões as viaturas da PRF que trabalhavam para desobstruir estradas.

Agressões no exterior
O vandalismo dos manifestantes antidemocráticos tem extrapolado até mesmo as fronteiras territoriais: na semana passada, bolsonaristas agrediram verbalmente e xingaram o cantor e compositor Gilberto Gil, de 80 anos, e sua mulher, Flora Gil, no Estádio Lusail, no Catar, durante o jogo de estreia do Brasil na Copa. O ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT) também foi abordado de maneira hostil por uma apoiadora de Jair Bolsonaro no aeroporto de Miami, no domingo, 27. Foi dessa cidade da Flórida, aliás, que a deputada Carla Zambelli “comandou a resistência”, durante os primeiros dias de novembro, incentivando os bolsonaristas que seguem tumultuando o Brasil.
Também aconteceu no exterior um momento delicado para o filho 02 do presidente, Eduardo Bolsonaro. Ao ser visto em um jogo do Brasil, teve de vir a público para explicar aos apoiadores do pai, aqueles que ficam tomando chuva na frente de quartel, que sua viagem tinha como verdadeiro objetivo entregar à “imprensa inteira” pen drives com “vídeos em inglês explicando a situação do Brasil”. A desculpa esfarrapada pegou mal até mesmo entre os bolsonaristas. Enquanto isso, em frente aos quartéis, negacionistas inventaram uma nova teoria da conspiração: as chuvas torrenciais de novembro, que castigam os acampamentos dos manifestantes, teriam sido causadas por “antenas HAARP”, a mando dos EUA. Casos como esses só vão cessar quando houver punição aos que cometem ilegalidades. Com a palavra, o Ministério Público e o Judiciário.