O assassino confessou seu feito. Tomado pelo ódio, havia esfaqueado várias vezes o rosto do colega e, após constatar a morte, ainda tentou decapitá-lo com um golpe de machado.

O motivo do crime? Divergência política. O assassinato no Mato Grosso aconteceu horas depois do presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro ter esbravejado que adversários políticos deveriam ser “extirpados” da vida pública. Em julho, outro apoiador do presidente protagonizou mais um ato de violência extrema e assassinou, a tiros, um guarda municipal petista. Antes de atirar, bradou seu grito de guerra: — Aqui é Bolsonaro!

Desde a eleição do capitão, em 2018, temos vivido tempos de cólera. Aliás, o próprio arauto da violência foi, ele mesmo, vítima do ódio que tanto propala, e só venceu nas urnas após ser esfaqueado por um ex-militante. Os episódios de agressividade que acompanham Jair Bolsonaro não são casos isolados. O ódio tem sido a tônica de sua vida política e a inspiração máxima de seu discurso. Dele, ninguém é poupado: de jornalistas a ministros do Supremo Tribunal Federal e ex-presidentes da República.

Quem não se recorda do infame voto por ocasião do impeachment de Dilma Rousseff em que Jair Bolsonaro enalteceu a memória do torturador da ditadura, Cel. Carlos Alberto Brilhante Ustra? É necessário que se ressalte: os ataques são mais implacáveis com as mulheres, vítimas preferenciais do presidente. Freud tem uma excelente explicação para tal predileção.

Às vésperas do pleito de 2022, o ódio tem recrudescido: seis em cada 10 eleitores temem ser agredidos por seus posicionamentos políticos. Na toada do olho por olho, aonde chegaremos? E o resultado da eleição? Determinará o fim da polarização insana e incivilizada no Brasil? Homem de frases emblemáticas, certa vez, o primeiro-ministro britânico Winston Churchill escreveu: “A diferença entre um estadista e um demagogo é que este decide pensando nas próximas eleições, enquanto aquele decide pensando nas próximas gerações”.

Às vésperas do pleito de 2022, o ódio tem recrudescido: seis em cada 10 eleitores temem ser agredidos por seus posicionamentos políticos

Nos anos 60, o jovem advogado Nelson Mandela estava pronto para conduzir a luta armada contra o Apartheid, a abominável política sul-africana que dividia brancos e negros, quando foi condenado à prisão perpétua. No silêncio de sua cela, encontrou força para resistir ao ódio e ao desejo de vingança. O cárcere não o abateu: converteu o rebelde guerrilheiro num revolucionário da paz. Quando alcançou a liberdade Mandela foi eleito presidente e ajudou a transformar um país cindido numa nação mais unida e próspera. O ex-guerrilheiro escolheu entrar para a história como um grande estadista. E a nós, brasileiros, o que nos espera? Quem há de nos reconciliar? O que nos livrará do desamor, dos corações cheios de areia? Um pacifista ou vingador?