26/08/2016 - 18:30
A desconfiança que pairava sobre a Olimpíada Rio 2016 se transformou em orgulho e o Brasil saiu do evento com a medalha dourada do dever cumprido estampada no peito. Em política, filho feio não tem pai. Já os êxitos têm a paternidade disputadíssima. Todos querem emprestar o seu DNA quando tudo se encaixa. O tempo dirá quem mais lucrou politicamente com o feito esportivo. Mas, de antemão, já dá para afirmar que o principal candidato a colher os louros do retumbante sucesso olímpico é o prefeito do Rio, Eduardo Paes. Apesar dos desgastes iniciais, Paes mostrou competência na organização da principal competição esportiva mundial. “Eu poderia dizer quebraram a cara. Mas prefiro falar para aprenderem a confiar no Brasil”, disse em entrevista à ISTOÉ. Agora, Paes se prepara para outra competição. O objetivo é fazer do deputado Pedro Paulo (PMDB) o seu sucessor nas eleições municipais. Calçando as sandálias da humildade, Paes diz que não acredita que os resultados da Olimpíada possam influenciar no pleito. “Ele será eleito pelas suas qualidades”, afirma. No meio político, no entanto, é consenso que Paes tem tudo para ser o grande cabo eleitoral de outubro.

Qual a avaliação que o sr. faz dos Jogos Olímpicos?
Diria que foi uma maratona muito longa com obstáculos, mas, especialmente nestes dois últimos anos, foi muito difícil pela situação a que o Brasil chegou. A gente conseguir entregar os jogos da maneira que entregou foi incrível. Não estou dizendo que a Olimpíada fez mágica, resolveu todos os problemas do País. Não, não e não. Cumpriu o seu papel. Foi uma Olimpíada para fazer história.
O que o sr. diria para as pessoas que não acreditavam no sucesso da Olimpíada?
Poderia dizer: ‘Ah, quebraram a cara!’ Mas, prefiro falar para aprenderem, com essa experiência, a confiar no Brasil, nas pessoas, na nossa capacidade de entrega. Ninguém vai nos respeitar se nós não nos dermos ao respeito. Que esse exemplo sirva para mostrar que dá para a gente avançar valorizando o que é positivo, e que não seja a crítica pela crítica só. Acho que o Brasil vivia um momento de muito mau humor e isso resvalou para a Olimpíada. Espero que o humor mude agora.
Em seu perfil no twitter, o sr. postou a frase ‘deixe que digam’, deixe que falem’. É um acerto de contas com quem criticava?
Os últimos seis meses foram muito difíceis. De dois meses para cá, eu sofri quase um bullying da imprensa nacional e internacional. E confesso que me senti sozinho defendendo a minha cidade. Chegou ao nível de darem credibilidade a um estudo que apresentava a presença, nas praias do Rio, de uma bactéria que mataria todo mundo. Eu sempre dizia: se é assim, a civilização carioca acabou porque todos vão à praia. Repito que o papel da imprensa é fazer críticas, mas exageraram. Então, tudo me indignou muito mesmo. Tento controlar meus ímpetos, mas dá vontade de reagir, realmente. E, de vez em quando, solto minhas ironiazinhas. Deixe que digam, que falem, e vamos curtir o Rio de Janeiro.
Mas não foi só a imprensa. Nas redes sociais muitos não acreditavam que daria certo.
As pessoas se informam como? Através da imprensa. Isso fez muito mal à Olimpíada do Rio. Olha, o que a gente perdeu de visitantes com essa conversa de Zika … E terminamos os Jogos sem ninguém pegar uma Zika que seja. Mas perdemos turistas pelo terror feito. As fotos que mostravam a Baía da Guanabara – que tem problemas, ninguém nega -, davam a entender que os atletas iriam navegar e nadar numa latrina. Diziam que não se poderia andar pelas ruas do Rio devido à violência. Acho que a imprensa internacional exagerou nas críticas e a mídia nacional entrou nessa onda. E cometeram muita injustiça com o Rio. Agora acho que temos que refletir sobre isso, sobre nosso preconceito contra nós mesmos. Como se um País em desenvolvimento, um País mais pobre, não pudesse realizar um evento do porte dos Jogos Olímpicos, justamente um evento que tem foco na integração das nações.
“Não acho que o Pedro Paulo vai ganhar ou perder por causa da Olimpíada.
Será pelas qualidades dele e pelas realizações do nosso governo”
Somos mesmo um dos Países mais pobres a sediar uma Olimpíada.
Ou, pelo menos, aquele que não esconde as suas mazelas. Mas as pessoas pareciam querer que a Olimpíada fosse a salvação de todos os problemas da cidade e do Brasil. Nunca foi isso. Foi uma forma de melhorar as condições do Rio, e o Brasil pôde, também, se mostrar como nação, como povo. Há um jogo geopolítico do Brasil que mudou desde que conquistamos o direito de sediar os Jogos 2016. Estávamos no melhor momento, e isso mudou. Mas não quer dizer que a gente seja uma desgraça como quiseram pintar previamente.
A Olimpíada deu alguns dias de alegria aos brasileiros, diferentemente da tensão política de antes. Como acha que será agora?
A verdade é que o modelo político brasileiro está em xeque, assim como todos nós. Mas isso não quer dizer que todos sejamos desonestos, vagabundos, picaretas. As pessoas ficaram mais ligadas na Olimpíada do que qualquer coisa, porém, vale a pena aproveitar esse período após a ‘respiração’ para pensar: será que todo mundo é assim, ruim como dizem? Tudo aqui é feito na base da picaretagem? Tem um monte de gente séria, o que não significa dizer que não errem. Erram, como todo mundo porque ninguém é perfeito. Essa Olimpíada mostrou que tem muita gente boa no Brasil, não só no setor público, mas também no setor privado.
Onde o Rio ganhou mais com a Olimpíada? E onde ganhará, a longo prazo?
Sempre disse que sob o ponto de vista de transformação urbana, comparando o Rio com o Rio, e comparando Barcelona (Espanha) com Barcelona (que sediou em 1992), a nossa é muito maior porque não está majoritariamente no centro, na região portuária. Aqui, essa é só uma das facetas do legado. Temos uma transformação de mobilidade incrível na cidade, infraestrutura, intervenções ambientais. O turismo ganhará a médio e longo prazo, mas não é apenas devido às belezas da cidade. Dobramos o número de quartos de hotéis, ampliamos os locais de visitação turística, entramos no roteiro de agências de turismo que antes não trabalhavam com o País. O Brasil tem que pegar isso e ir para a frente agora.
“Acho que a paralimpíada vai emocionar. Se o atleta dos Jogos Olímpicos
já é resultado de superação, o do esporte paralímpico é mais ainda”
O sr. chorou em algum momento da Olimpíada?
Acho que minha maior emoção foi o dia em que carreguei o fogo olímpico. Um sentimento assim: ‘Chegou, né?’ Meu primeiro ano de governo foi todo tentando conquistar a Olimpíada, depois, tentando vencer a enorme quantidade de desafios. Era como se a prefeitura fosse um atleta também correndo atrás da medalha de ouro. E é um evento com uma mensagem muito forte, a integração dos Países, o esporte. Então, ali foi o momento que mais me emocionei.
Por que foram vendidos tão poucos ingressos – até agora, 17% – para a Paralimpíada?
Isso aconteceu em Londres também (2012), mas acho que parte do fenômeno tem a ver com a nossa cultura de deixar para comprar em cima da hora. Foi assim também na Olimpíada. Acho que a paralimpíada vai ser um sucesso, vai emocionar. Se o atleta dos Jogos Olímpicos já é resultado de superação, quebra de desafios, o do esporte paralímpico é mais ainda. Com um detalhe: o Brasil é potência mundial neste evento, esta no top five, foi campeão Pan-Americano. A gente vai ver muitas medalhas, muitas pessoas que nunca tínhamos ouvido falar e que estão entre os melhores do Mundo nos esportes que praticam, superando suas deficiências.
Acha que o sucesso dos Jogos pode favorecer, por extensão, o candidato que o sr. apoia?
Não acho que o Pedro Paulo (PMDB) vai ganhar ou perder por causa da Olimpíada. Será pelas qualidades dele e, também, pelas realizações do nosso governo. O debate eleitoral é que vai permitir isso. A Olimpíada é um patrimônio do País, da cidade, de uma união de governos. Não tem como não registrar o meu agradecimento aqui ao Lula (ex-presidente Luiz Inácio da Silva), a Dilma, ao ex-governador (Sérgio) Cabral, ao governador (Luiz Fernando) Pezão, em tratamento de saúde, ao governador (interino) Francisco Dornelles, e ao presidente (interino Michel) Temer, que também ajudou, para citar somente os homens públicos. Muitos outros também foram fundamentais. Esse é um jogo que a gente não joga sozinho de maneira nenhuma.
Quais são seus planos pós-Olimpíada?
Vou terminar o meu governo e tirar um período sabático com minha mulher e filhos. Ficarei entre seis meses a um ano em Nova York, dando aula na Universidade Columbia. Quero curtir mais a família, dar mais atenção aos filhos. E vou trabalhar porque tenho que garantir o sustento das crianças, mas farei isso fora do Brasil. Acho que é bom para o novo prefeito, para mim, para minha família.
Quando voltar do período sabático o sr. será candidato novamente? A quê?
O futuro dirá.