“Os casais estão em uma busca frenética por datas e locais, as reservas explodiram depois de fevereiro” Fábio Rugna, CEO do grupo Bisutti (Crédito:Divulgação)

Ruim para o amor, péssimo para os negócios: a pandemia não apenas adiou milhares de casamentos ao longo de dois anos, como também paralisou um mercado que movimentava anualmente cerca de R$ 17 bilhões. Em 2022, com o avanço da vacinação, o setor espera retomar o tempo perdido com força total – apesar da alta da inflação, que provoca o aumento de preços dos buffets e, consequentemente, uma lista de convidados mais enxuta. Luiza Oliva Paganelli, de 31 anos, e Vittor Henrique Lemos, 29, foram obrigados a mudar os planos do tão sonhado dia. A cerimônia estava marcada para outubro de 2020, em uma vinícola em Mendoza, na Argentina. O local já estava fechado, o DJ e os fotógrafos, contratados. Os 40 convites, apenas para a família e os padrinhos, também já haviam sido entregues. Com a alta nos números de infectados no Brasil e na Argentina, os planos foram por água abaixo. O casamento só veio a acontecer um ano depois, em novembro de 2021, em um resort no interior de São Paulo. “Toda vez que marcávamos a data e tínhamos de cancelar era um desespero. Não sabíamos se os fornecedores entregariam os produtos, ou se o DJ, que já estava pago, poderia comparecer. Felizmente, tudo ocorreu de forma perfeita, em um local aberto e com segurança para as nossas famílias. As pessoas se arriscaram para estar ali, elas realmente queriam fazer parte daquele momento”, diz Luiza.

O Brasil registrou mais de um milhão de casamentos em 2019, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número caiu para menos de 760 mil em 2020 e, no ano seguinte, chegou a 740 mil. Com a flexibilização das medidas de saúde, a demanda reprimida está retornando e os noivos tem disputado datas e locais ideais para realizarem seus sonhos. A agenda de boa parte das casas de evento e buffets já está com os dias esgotados até o final de 2023. É o caso do grupo Bisutti, o maior e mais disputado do País, com casas de festas que chegam a custar R$ 400 mil. Todas as noites de sábado, data favorita dos pombinhos, já estão reservadas nos 15 espaços do grupo até o final de 2023. “Os casais estão em uma busca frenética por datas e locais, as reservas explodiram depois de fevereiro”, diz Fábio Rugna, CEO da empresa. Ele afirma que os casamentos pós-pandemia reduziram o número de convidados, mas ficaram ainda mais luxuosos. “As festas estão mais caras porque o preço dos produtos aumentou. Perdemos muita mão de obra.”

MUDANÇAS Rodrigo e Leandro no altar, dois anos depois: redução na lista de convidados (Crédito:Divulgação)

O modelo Rodrigo Malafaia, de 31 anos, e o cantor Leandro Buenno, de 29, precisaram fazer muitas mudanças em seu casamento. Marcado para março de 2020, bem no momento em que eclodiu a pandemia, o evento teve de ser cancelado apenas oito dias antes – foi remarcado e, finalmente, aconteceu em fevereiro deste ano. Além de ter de contratar novamente o buffet e relocar o sítio que hospedaria seus convidados, o casal precisou jogar fora diversos litros de bebidas alcoólicas, energéticos e refrigerantes, pois já tinham passado do prazo de validade. Outro fator que sofreu alterações foi a lista de convidados: “Nós, como seres humanos, mudamos muito nesse período. Não dava para suportar atitudes que costumávamos relevar antes da pandemia. Desconvidei umas 50 pessoas, foi revigorante e libertador”, diz Rodrigo.

Com mais de duas décadas de experiência no setor, Fabiana Cristina Martins, empresária de 51 anos e proprietária de três casas de festas, diz que o prejuízo bilionário que o mercado sofreu nunca mais será recuperado. “É como se a gente estivesse começando do zero”, explica. Ela conta que, além do valor dos casamentos ter aumentado cerca de 50%, outra mudança perceptível foi o comportamento dos noivos nesse período pós-pandemia. “O nível de ansiedade e estresse em um momento delicado como esse é normal, mas depois da Covid-19 parece que tudo ficou ainda pior. Os noivos estão nervosos e mais exigentes”, diz. Com a demanda reprimida sendo finalmente restaurada, só resta aos futuros casais manter o amor aceso, fazer um bom planejamento e ter um pouco de paciência.