Menos de três meses após os britânicos optarem por sair da União Europeia, veio na semana passada um anúncio das autoridades londrinas que tem conexão direta com o triunfo do Brexit: o governo da Inglaterra dará início nos próximos dias a construção de um muro com quatro metros de altura ao longo da estrada que acessa a região portuária da cidade francesa de Calais. Essa região, que já concentra uma multidão de refugiados e imigrantes, tem sido ponto estratégico a milhares de desvalidos que saem do Oriente Médio e da África com a roupa do corpo, e, na alma, levam a esperança de cruzar o Canal da Mancha e ingressar na Inglaterra – é como se ela estivesse agora a dizer quem pode ou não pode passar pelo Canal. O governo francês arcava financeiramente com operações de triagem e de controle imigratório desse local, chamado de a “selva de Calais”, mas todos os gastos são agora da Inglaterra já que ela escolheu isolar-se no continente. Convictos de seus preconceitos e cada vez mais conscientes de uma comunidade europeia que já aponta para o fim da globalização, os ingleses parecem não se preocupar com a dinheirama que gastarão, desde que consigam manter os refugiados à distância: o muro de Calais (atualmente isolada por cerca de arame) está orçado em 2,7 milhões de euros e integra um pacote de medidas de segurança de 20,3 milhões de euros. “Essa medida é uma mensagem terrível depois da votação do Brexit”, diz Alf Dubs, membro da Câmara dos Comuns. O “terrível” a que Dubs se refere, num momento em que triplica em 78 países o número de crianças que imploram por abrigo (são 50 milhões de refugiadas), é o retorno do mundo a uma geopolítica que sempre acaba em guerra: a da formação de Estados nacionais.