24/02/2023 - 9:30
Baixar um aplicativo para gestantes foi a primeira coisa que a relações públicas Yasmin Magyar, de 31 anos, fez quando descobriu que estava grávida. “Como sou mãe de primeira viagem, eu não tinha ideia do que fazer. O app me deu uma luz sobre o tamanho do meu bebê, de quantas semanas eu estava, previsão de nascimento e quais seriam os primeiros exames”, conta. Hoje, faltando um mês para a chegada de Betina, ela avalia o uso da tecnologia de forma positiva. “Me trouxe calmaria e diminui a ansiedade. Pelo aplicativo, você consegue ver que seu bebê está dentro de um padrão estabelecido pela medicina”. A mesma tranquilidade é narrada pelo analista de recursos humanos Danilo Martire, de 50 anos, que usa um relógio inteligente para controlar a qualidade de sono e dar o seu melhor nas atividades físicas, como corrida e musculação. “Uso na rotina diária. Ele diz coisas como: ‘parabéns, você caminhou mais do que na semana passada’. É quase um puxão de orelha. Brinco que é meu coach (treinador)”, narra. Yasmin e Martire são exemplos de que apps de saúde no celular e os wearables – todo e qualquer dispositivo tecnológico que possa ser usado como acessório ou que se possa vestir – se popularizam. A oferta de programas como medição da pressão sanguínea, oxigenação e até eletrocardiograma fazem a modernidade ficar em alta.
Aplicativo no celular
•Entre os principais downloads estão aplicativos da área de medicina para exercícios físicos,
práticas de ioga e meditação
•Acompanhamento em tempo real muda hábitos de quem está em busca de algum benefício para si
•No Brasil, usuários passam 5 horas ao dia conectados aos seus smartphones
Segundo levantamento da empresa de análises Counterpoint Research, o número de smartwatches vendidos durante o segundo trimestre de 2022 cresceu 13% em relação ao período anterior. Ao mesmo tempo, um estudo da consultoria internacional App Annie constatou que, no Brasil, o total de downloads de aplicativos de bem-estar e saúde aumentou 45% no ano de 2020. A tecnologia tem a aprovação da ala médica se usada com prudência. “O risco é a generalização de uma informação que pode não ser adequada para um certo indivíduo. O paciente pode ter vícios ou erros em relação aos seus cuidados”, alerta Marcelo Miranda, endocrinologista do Vera Cruz Hospital. “Há também a questão de que a pessoa pode ficar preocupada demais com variações fisiológicas e isso gera uma ansiedade”.

Relógio inteligente
•Mercado em crescimento para dispositivos para crianças e idosos: sensor de queda para a terceira idade
•Empresas buscam avanços para rastrear açúcar no sangue e monitoramento de pressão arterial
• Novos adeptos preferem acessórios fáceis de usar, práticos e passíveis de personalização
Mas se vistos como auxílio, tanto softwares de dispositivos móveis quanto relógios digitais são benéficos. “Eles dão grande ajuda, informações e possuem utilidades para quem busca qualidade de vida. Há muitos trabalhos científicos comprovando que esses algoritmos são fieis”, diz Roberto Debski, clínico geral, que é adepto do smartwatch para medição de pressão. “Nada disso substitui o atendimento médico. Mas, sabemos que a parte difícil da relação com o paciente é a adesão ao tratamento. Então, se existe um recurso que pode ser útil, se bem utilizado, é válido”.
Um exemplo de como essa modernização ampara é a experiência do programador Rinaldo Costa, 32, que eliminou 15 kg com suporte tecnológico. O caso dele é um dos sucessos do Programa Allurion, em que pacientes com balão intragástrico são acompanhados por meio de um app, uma balança eletrônica e um relógio inteligente. “Todas as vezes que a pessoa se pesa, o aplicativo é abastecido de dados e enviados para nós em tempo real. Assim, monitoramos os índices gerais, como perda de peso, massa corporal e muscular, e percentual de gordura”, lista Cintia Presser, gastroenterologista do programa. “A tecnologia ajuda a manter a disciplina. Com os dispositivos, meus registros iam automaticamente para a clínica. Eu conseguia saber se estava no caminho certo”, relembra Costa.


Com tamanha integração, especialistas observam que o avanço agora é conquistar mais adeptos. “Estamos no caminho da popularização e o desafio é tornar tudo fácil de utilizar”, analisa Rafael Franco, CEO da Alphacode, empresa do ambiente mobile. Os números das vendas não mentem. No ano passado, a Apple dominou o nicho com 8,4 milhões de unidades vendidas do Apple Watch. Outras marcas não ficam para trás. A Technos cresceu mais de 10% nas vendas dos smarts em 2022. “O consumidor novo quer um relógio fácil de usar, que seja conectado e que tenha as informações de mensagem e rede social no pulso”, aponta Iara Oliveira, coordenadora de tecnologia da fábrica. Nesse quesito, o público-alvo não tem definições de idade.
“A tecnologia fica interessante quando pessoas comuns a utilizam. Significa que a barreira foi rompida”, comenta Franco. Um exemplo disso é sua mãe, que se adaptou bem ao relógio inteligente. A dona de casa Maria Célia de Sousa, 59, trata o objeto como um treinador motivacional. “Ele pede para eu levantar do sofá. Só falta falar: ‘Sua preguiçosa, vamos caminhar’”, diverte-se. “E quando me exercito, bate palma para mim. Até converso com ele: ‘Hoje você não me pegou’.”