Começou com os nightbikers, gente que se junta para passeios noturnos de bicicleta pelas ruas vazias da cidade. Mas agora cresce bastante o número de outras pessoas que trocam uma noite de sono por um passeio sobre rodas de madrugada. Rodas, não. Rodinhas. Os ciclistas continuam circulando, mas passaram a dividir cada vez mais espaço com os patinadores e os skatistas. O desafio de manter-se equilibrado contamina seus adeptos. “É um jeito muito especial de se viver” diz o catarinense Djeison Ristow, de 36 anos, morador de Curitiba, no Paraná. Ele é um dos nomes mais importantes da modalidade no Brasil. Djeison define a atividade como algo que simboliza a união e a satisfação pessoal. “Conheci meus melhores amigos e minha esposa por meio do esporte”, conta. No caso de Djeison, a motivação para patinar veio com o cinema. “Tinha 19 anos quando vi o filme Manobras Radicais. A patinação representa uma grande família hoje”, garante. A afirmação de Djeison faz sentido: o grupo que ele lidera reúne cerca de 200 pessoas.

Mas por que esses patinadores e skatistas preferem fazer suas manobras à noite? São, essencialmente, dois motivos que sustentam a nova onda. Ao anoitecer, há menos pessoas e veículos nas ruas, parques e praças. Assim, a sensação de liberdade aumenta, com mais espaço disponível. Além disso, todos os praticantes são unânimes em considerar que a brisa noturna suaviza os efeitos do esforço.

Robson Andrade concorda com a afirmação. Ele tem 50 anos de vida, 30 andando de patins e 25 atuando como instrutor da modalidade, A imagem de Robson se confunde com os patins, ele é um dos símbolos da patinação na cidade de São Paulo. Tanto é assim que a ele é atribuído o codinome Corvo. Ele executa manobras incríveis como, por exemplo, deslizar por uma distância longa tocando o chão com uma única rodinha de um de seus patins. “Só falta voar”, é o que mais dizem. Hoje, até seus familiares o chamam de Robson Corvo. Quando criança, conta, de dentro de um ônibus ele viu uma pessoa andando de patins em alta velocidade pelas ruas do centro da capital paulistana. “Foi amor à primeira vista”, diz. Agora, ele está à frente de uma turma de mais de 50 patinadores que usa o Parque do Ibirapuera nas noites de terça-feira, para desenvolver suas habilidades. “São pessoas das mais diversas idades, começando com crianças de 3 anos, até gente madura com mais de 60”, diz Corvo.

HÁBITO Felipe Bazooka na Praça Waldir de Azevedo, no centro de São Paulo: skatistas definem a atividade como um estilo de vida (Crédito:Gabriel Reis)

Tanto as tribos dos patins quanto as do skate garantem que esses esportes mudaram suas vidas em diversos aspectos. “Qualquer atividade esportiva agrega valores. Considero o skate uma maneira de pensar, de se vestir, e até uma forma diferente de enxergar a arquitetura da cidade”, afirma Felipe de Souza Paulo. Ele tem 29 anos e desde os 7 anda em cima de skates. “Costumo dizer que a mesma determinação que tenho para pular uma escada ou descer um corrimão eu uso para enfrentar os problemas da vida”, Como Corvo, ganhou apelido e virou Felipe Bazooka.

O termo esporte radical surgiu no final da década de 1980 para caracterizar exercícios que têm alto grau de risco físico. Tal risco é perceptível nas duas modalidades noturnas, no skate ainda mais, mas a qualidade de vida que eles proporcionam pode compensar o perigo. “Os dois esportes trabalham aspectos importantes para saúde: músculos, postura, flexibilidade e, principalmente, o equilíbrio”, afirma Luiz Augusto Riani Costa, médico do esporte da USP.

Ele explica que, atualemnte, doenças crônicas são controladas, mas às vezes as pessoas idosas acabam morrendo devido a quedas simples, que poderiam ser evitadas se preservassem mais sua agilidade e sua forma física praticando esportes. “Até gente jovem sofre com dores no corpo por falta de movimentação”, pontua Riani Costa. Com o médico praticamente indicando a movimentação como uma prescrição de saúde, quem quiser vivenciar a noite sobre rodinhas só tem de vestir capacete, cotoveleiras e joelheiras, equipamentos de segurança para ambas as modalidades, e ir para rua.

Benefícios e riscos à saúde

• A prática de atividades físicas como a patinação e o skate proporcionam gasto calórico: contribui com o combate à obesidade

• Condicionamento cardiovascular: condição que também ajuda na função pulmonar

• Aumento do tônus muscular: permite ao praticante mais resistência para executar as tarefas diárias

• Ambos os esportes trabalham o equilíbrio

• Ao praticar qualquer esporte, deve se levar em consideração os possíveis riscos, principalmente, quedas e choques que podem ocasionar lesões, como entorses e traumas. Por isso, é indispensável ao praticante a utilização de itens de segurança:

– Capacete
– Cotoveleira
– Luvas
– Joelheiras