02/12/2022 - 9:30
O vocalista Ian Astbury tem uma forte ligação com o Brasil. Além das turnês que fez com sua banda, The Cult, ou como substituto de Jim Morrison à frente do The Doors, ele revela que seu pai, Robert Leighton Astbury, esteve no Rio de Janeiro nos anos 1950 como oficial da marinha britânica, em missões de reconhecimento após a Segunda Guerra. Em tempos de Copa do Mundo, Astbury guarda na memória a paixão pela Seleção Brasileira de 1970. “Não gostava apenas do futebol, mas do ritmo e criatividade com que jogavam. Aquilo mudou a minha vida.”
A influência brasileira não chega a ser perceptível no novo disco, Under the Midnight Sun, pelo menos não diretamente. Repleto de incríveis riffs de guitarra de Billy Duffy, músico de Manchester e seu parceiro desde o início da banda, em 1983, o álbum traz o estilo que tornou o grupo famoso. É o primeiro lançamento em seis anos, atraso que Astbury credita à pandemia. Mas ele ressalta o lado positivo: “As canções tiveram mais tempo para amadurecer.” A parceria com Tom Dalgety, que se destacou pelo trabalho com jovens artistas como Royal Blood e Ghost, trouxe um frescor ao grupo. “Precisávamos romper com Bob Rock, ele era como um irmão mais velho”, afirma, citando o produtor que o acompanha por anos.
Apesar do som renovado, uma característica da banda britânica permanece intacta: a temática espiritual das letras e a reverência ao meio ambiente. Astbury, porém, não se considera um ativista. Na verdade, ele rejeita qualquer rótulo: “Cargos e títulos não são importantes. Prêmio Nobel da Paz? Relevância zero. ONU? Ineficaz. São apenas performances, como no teatro. Já passamos dessa fase. A natureza está morrendo. Já estive na mira de armas por causa da minha postura, mas isso deve ser dito.”
“Os indígenas são a chave para o futuro. Temos de abrir um canal de comunicação com as comunidades e ouvi-las” Ian Astbury, vocalista
O vocalista afirma que já passou da hora de discutir a questão indígena “entre brancos”. “Eles são responsáveis pelo equilíbrio, pois mantêm o conhecimento sobre o que é ser humano, algo que nossa sociedade perdeu. Os indígenas são a chave para o futuro. Temos de abrir um canal de comunicação com as comunidades e ouvi-las.” Astubry discorda de quem argumenta que ele não pode falar sobre o assunto por ser um europeu vivendo nos EUA, longe da floresta. “Isso é bobagem. Meus pais morreram de câncer, vítimas de produtos industrializados. Somos expostos à química e à poluição. Os governos têm de parar de usar a violência para roubar a terra indígena porque isso é genocídio. Estamos repetindo os erros do passado.” O vocalista, no entanto, revela um certo otimismo com as novas gerações: “Vivemos um renascimento psicodélico. Os jovens hoje têm consciência e usam a tecnologia para se organizar”. Os fundamentos do movimento hippie estão de volta, mas agora em versão digital.