O Conselho de Supervisores do Condado de São Francisco, nos Estados Unidos, aprovou o uso de robôs com capacidade de matar. A ideia: munir as máquinas com explosivos a serem usados em casos de emergência, como ataques terroristas. A cidade já possui robôs controlados remotamente, e agora, com anuência das autoridades, eles agiriam de forma letal entre civis, mas o projeto foi barrado em exatos sete dias após oposição da população. Na terça, dia 6, a proposta foi enviada a um comitê para reavaliação.

Inicialmente aprovado com oito votos a três, o “exterminador do futuro” da Califórnia seria empregado nas operações de rotina da guarda. Dependendo da situação, a tecnologia poderia tirar a vida de suspeitos em “circunstâncias extremas”, para proteger inocentes e policiais. “É uma opção de último recurso. Vivemos em uma época na qual a violência em massa se torna comum”, declarou na ocasião William Scott, chefe da polícia. A cidade tem 17 equipamentos do tipo, mas usados apenas em funções como buscas ou desarmes de bombas.

O robô mortífero provocou protestos, incluindo uma grande aglomeração na porta da prefeitura de São Francisco. Em nova votação, o plano de usar o maquinário contra o crime foi suspenso, e passará por avaliação aprofundada. O clamor público fez com que autoridades refletissem sobre ética e a questão de que a prática pudesse trazer às pessoas uma normatização da morte, apontada por especialistas como Anderson H. Moreira, professor de Engenharia de Controle e Automação do Instituto Mauá de Tecnologia. “Usar robôs em tarefas que possam resultar em dano para o ser humano pode ‘normalizar’ essa situação: de não se sentir o responsável, uma vez que a pessoa opera a máquina a distância”, analisa. “Se o operador estivesse com uma arma ou uma bomba de fato nas mãos, talvez a decisão fosse outra”. Moreira destaca que os aparatos envolvidos não são do tipo humanoide. “São veículos com câmeras e não são autônomos.”

Ainda é preciso muito para que um protótipo de Robocop como o do cinema seja visto na rua. E, por causa dessa polêmica na Califórnia, o debate agora é outro. “Deveríamos trabalhar em maneiras de diminuir o uso da força pela polícia, e não dar a eles novas ferramentas para matar”, finalizou Dean Preston, integrante do Conselho de São Francisco.