Diferenciar um alimento livre de agrotóxico de um “comum” virou a especialidade de Luciano Trombini, 34 anos, engenheiro de infraestrutura da Mercedes-Benz do Brasil, em São Bernardo do Campo (SP). Funcionário da montadora há 13 anos, ele admite que não era fã de salada.

No entanto, o hábito mudou com os orgânicos oferecidos no refeitório da companhia. “As verduras daqui são gostosas. Continuo não gostando do que encontro nos supermercados, só como os que servem aqui”, diz. O cheiro e o sabor diferenciados o conquistaram. “Foi amor à primeira vista. Agora gosto de alface e rúcula, que eu não comia de jeito nenhum. Com a ingestão dos orgânicos, senti diferença até na minha pele”.

A mudança no comportamento de Trombini é uma das conquistas da Mercedes-Benz, que em 2019 inaugurou sua Fazenda Urbana para cultivo de hortaliças, uma estufa dentro de seu parque fabril. A produção abastece os refeitórios usados pelos mais de nove mil colaboradores. O projeto se deu em parceria com a startup BeGreen, especializada em produzir alimentos de forma sustentável, que coordena o plantio. São 1.200 m2 para colheita de alface baby (verde e roxa), rúcula, espinafre, agrião e chicória. Há ainda folhas usadas em temperos, como salsinha, hortelã, cebolinha, coentro, manjericão e sálvia.

“Depois de consumir verduras orgânicas, senti diferença até na minha pele” Luciano Trombini, engenheiro de infraestrutura da montadora de veículos (Crédito:GABRIEL REIS)

Proporcionar uma alimentação de qualidade é o mote, mas existem outros ganhos. “O conceito é o chamado ‘da fazenda para a mesa’, em que se reduz uma série de passos da cadeia logística, em que há o produtor, o transporte, o atacadista, o varejista, o consumidor e, enfim, o prato. Aqui, a mercadoria vai direto para o prato”, explica Rafael Gazi, assessor da presidência da Mercedes. “Temos uma redução drástica em transportes, mas, principalmente, no desperdício que advém dessa cadeia”.

Com métodos inovadores, a estufa produz 2,4 toneladas de hortaliças por mês. O local trabalha com aquaponia, que integra a criação de peixe com a produção de plantas, adotando a água como meio comum. A vantagem do modelo é a economia de 90% de água em relação à agricultura convencional. Existe também a aeroponia, em que as raízes ficam suspensas no ar, o que quadruplica a produtividade. “Colhemos de 80 a 100 kg de itens variados por dia. O alimento chega fresco para o consumidor, sem desgaste ou estresse da planta no traslado. O refeitório está a poucos metros”, detalha Vitor Reis, supervisor de produção da Fazenda Urbana.

A proposta ainda coloca parte dos produtos à venda para os trabalhadores da companhia. Por meio de uma assinatura média R$ 24 é possível receber folhosas e temperos frescos a cada semana. “Conseguimos democratizar o acesso a um alimento saudável e impactar as pessoas”, considera Giuliano Bittencourt, CEO da BeGreen.

AUTOMATIZAÇÃO produção no sétimo andar da sede do iFood, em Osasco (SP), com sistema de climatização de alta tecnologia (Crédito:Divulgação)

A startup tem outra horta com resultados e números relevantes instalada na sede da iFood, em Osasco (SP). Trata-se de uma área com 950 m2 no sétimo andar da empresa, que resulta em 1,7 toneladas de alimentos por mês. Dali saem hortaliças, frutas e legumes que servem os dois mil funcionários da foodtech. “Parte do cultivo é doado ao Banco de Alimentos de Osasco”, acrescenta Bittencourt.

Em Minas Gerais, a siderúrgica Gerdau, em Ouro Branco, também tem uma fazendinha para chamar de sua. Inaugurado em 2019, o projeto Da Horta para a Mesa leva a assinatura da Sapore, multinacional do setor de alimentos. Com produção 100% orgânica, o local oferece alface roxa e crespa, salsinha, manjericão, tomilho e alecrim. Além de promover a sustentabilidade, diminuir o impacto ambiental e fornecer comida saudável, há a redução nos custos logísticos. “Aproveitamos as hortaliças em sua totalidade, pois são consumidas imediatamente após a colheita, sem impactos do transporte”, destaca Vanessa Veloso, diretora-executiva de operações da Sapore.

A iniciativa ainda propõe benefícios a longo prazo para empregadores e seus contratados. Afinal, uma alimentação sadia resulta em melhor saúde física, mental e emocional. “Tudo isso gera qualidade de vida, refletindo, também, na produtividade da empresa”, finaliza Vanessa.