Apeado do Palácio da Alvorada por voto popular democrático e incontestável, o presidente Jair Bolsonaro não decidiu seu destino no dia 1º de Janeiro. Há opções de sobra: uma casa em Angra dos Reis, e a casa onde residia num condomínio da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro – porém ambas não recomendadas pela segurança a um ex-chefe de nação. Especula-se o aluguel de mansão no Lago Sul em Brasília. Pessoas próximas dizem que Bolsonaro vai submergir (literalmente) e pescar na praia: morar numa ilha de um amigo recém-adquirida na Costa Verde, litoral de Angra, onde terá mais segurança e a privacidade necessária. Politicamente, ele quer participar como conselheiro do governo de Tarcísio de Freitas, em São Paulo, onde poderá ter a vitrine para manter o espírito bolsonarista aloprado que nasceu na sua gestão.
Há quem o aconselhe a fundar partido para chamar de seu – o que tentou sem sucesso antes da candidatura à reeleição. Tempo para isso Bolsonaro terá. E muito dinheiro de amigos, idem.

Cidadão comum a partir de janeiro, ele pode se refugiar numa ilha de Angra para pescar. E é aconselhado a criar um partido para chamar de seu

Quando a ficha caiu

Ton Molina

Bolsonaro viu o fim de seu governo no domingo, quando precisou conversar com o ministro Paulo Guedes, e esse pediu-lhe para ir à Granja do Torto. O presidente viajou 36 km de ida e volta para ver o subordinado. O episódio lembrou o último voo de helicóptero de Collor após sair do Planalto: o piloto não quis sobrevoar uma escola que ele construiu.

Agro ara terra contra a ideologia

O agro não é só bolsonarista. “Parte importante do agronegócio, especialmente em Estados conservadores como Goiás e Mato Grosso, não se sentiu representada pelas lideranças de algumas entidades que se contaminaram pelo discurso ideológico e, com isso, se desviaram do pragmatismo que caracteriza o segmento. É hora de retomar o caminho da razão”. Quem descreve o cenário é o advogado Fernando Tibúrcio, que acompanha o setor. Segundo ele, o Brasil precisa associar a inevitável expansão das lavouras à preservação do meio ambiente e dos negócios. A retaliação ao desmatamento do cerrado entrará na COP27 no Cairo.

O desafio verde de Marina e Alckmin

Ricardo Moraes

Marina Silva é a aposta do staff do presidente eleito, Lula da Silva (PT), para retornar ao Ministério do Meio Ambiente. Com um desafio imenso na Amazônia: acabar com garimpo, com desmate de madeireiros e pecuaristas, com a biopirataria etc. No front pela floresta, além da possível criação de uma universidade da biodiversidade, estima-se a volta do Bolsa Verde, um auxílio mensal como bônus para ribeirinhos e lavradores manterem a floresta em pé. Lula deu a dica no discurso da vitória. Com ajuda do vice Geraldo Alckmin, que tem estudado o tema, Marina será vitrine do Brasil e voz de Lula no exterior.

O capitão não perdoa Zema e Neto

Inconsolável com a derrota, Bolsonaro tem criticado muito o comportamento dos candidatos aos Governos da Bahia e Minas Gerais, ACM Neto (UB) e Romeu Zema (Novo), respectivamente. O inconformismo é compartilhado pelo staff. Todos consideram que Bolsonaro teria virado o resultado da eleição se Zema e Neto tivessem apoiado o capitão já no 1º turno. Zema cuidou de si e só na segunda etapa pegou na mão do aliado, gritando horrores contra o PT. Neto ficou em cima do muro nos dois turnos. Bolsonaro acredita que os votos de Minas e Bahia puxados pelos candidatos fariam a diferença no final.

JHC contra o ‘showmício’ de Renan

O prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, vai acionar na Justiça dois desafetos e pedir a impugnação do governador eleito Paulo Dantas e do senador eleito Renan Filho, ambos do MDB. Num carro de som, eles ofenderam sua família em frente ao prédio onde mora na madrugada da segunda.

Dupla perdida no Acre

Se quiserem algo de Lula, os irmãos Jorge e Tião Viana, ex-senadores e nomes fortes do PT no Acre, vão ficar chorando na antessala do Palácio. O petista conseguiu só 29,7% dos votos no 2º turno no Estado, ante inesperados 70,3% do adversário. O PT teve baque com a debandada de marinistas. Agora, acabou com a falta de tato dos irmãos.

Deu Cacique Barba

A política desastrosa de Bolsonaro na Fundação Nacional do Índio, cuja gestão de um delegado federal não recebe lideranças para diálogo e virou uma “portinha”, reverberou nas aldeias nos rincões do País. Na Terra Indígena Urubu Branco, no Mato Grosso, Bolsonaro não teve um voto no 2º turno. Foram 383 votos para Lula, e 1 nulo.

Nos Bastidores

O Zero Um na disputa
É consenso no clã que o senador carioca Flávio Bolsonaro é candidato natural do bolsonarismo a presidente da República em 2026. Hoje, é o único potencial nome da direita.

A vaga será de Zanin
Não é dúvida para ninguém no metiê próximo de Lula da Silva que a primeira vaga aberta no STF será para Cristiano Zanin, o seu advogado. Lula repetirá o ato que levou Antonio Dias Toffoli ao Poder.

Fora de cena política
Atores que fizeram fama na TV e redes foram derrotados. A global Lucélia Santos (PSB-RJ) disputou para deputada federal e obteve 10.867 votos. Gustavo Mendes (PT-MG), que imita Dilma na internet, também tentou a Câmara e obteve 18.634 votos.

Jogos da Transição

O Republicanos será chamado na transição. O partido negociava com Bolsonaro a recriação do Ministério do Esporte, que comandou sob Dilma e Temer. Leva a pauta ao PT, e oferece a bancada no Congresso.