03/06/2022 - 9:30
Há seis anos, quando o País estava em frangalhos, a economia descontrolada e a presidente sofria um processo de impeachment, o então vice-presidente MichelTemer (MDB) salvou a Nação do caos ao propor um sólido programa de recuperação chamado “Ponte para o Futuro”. Ele pegou o País com uma queda no PIB de 4%, inflação de 9% e taxa de juros em 14,25%. Dois anos depois de uma gestão irretocável, com a implementação de reformas e do teto de gastos, ele passou o governo para Bolsonaro com crescimento do PIB em 1,8%, inflação de 3,75% e taxa de juros em 6,5%. Sem contar que pacificou o País, que naquela altura já vivia em clima de beligerância política. Fez uma transição democrática. Agora, a quatro meses das eleições, Temer ressurge com propostas que levam a um pacto nacional e a um novo ciclo de estabilidade política e econômica. O seu projeto, denominado Movimento Brasil, prevê reunir numa chapa única todos os presidenciáveis e ex-presidenciáveis de centro, de Simone Tebet a João Doria, e de Sergio Moro a Luiz Henrique Mandetta, para enfrentar nas urnas a danosa polarização entre Lula e Bolsonaro.
O ex-presidente prefere não dar entrevista para falar sobre o projeto, pois deseja aguardar o desempenho da candidatura de Simone Tebet à Presidência da República pelo MDB, do qual é presidente de honra, entendendo que a viabilidade de execução do Movimento Brasil só será possível depois de esgotadas todas as chances de consolidação da campanha da senadora. Caso Tebet não decole nas próximas semanas, o projeto de Temer poderá ser posto à prova em julho ou começo de agosto, época das convenções partidárias. O movimento está tomando força nos corredores do Congresso em Brasília, no empresariado em São Paulo, no meio jurídico e entre entidades da sociedade civil, onde a pergunta que mais se ouve nos últimos dias é: “por que não Temer?”. Um dos que mostram disposição em levar esse projeto adiante é o ex-presidente da OAB-SP, Luiz Flávio Borges D’Urso, que deve propor uma palestra do ex-presidente da República ao Conselho Federal da OAB, para que ele possa expor suas ideias sobre um novo programa de desenvolvimento para o País.

Assédio empresarial
No MDB, aliados de longa data de Temer admitem que, antes de o partido oficializar Simone Tebet como pré-candidata, chegaram a atuar para a entrada do ex-presidente na disputa. O ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo Carlos Marun conta que, em meados de maio, perguntou a Temer se poderia encaminhar a encomenda de pesquisas eleitorais com o nome dele. Recebeu um “não” e a explicação de que só aceitaria a missão como “um ato de grande sacrifício” pelo País – e que aquele não era o momento adequado. “A candidatura de Temer sempre foi vista por muitos como natural. Eu diria que, hoje, no Brasil, Bolsonaro tem a cara da direita, o Lula a da esquerda e Temer a do centro. Então, é natural que tenha sido em muitos momentos cogitada essa participação. Só não foi cogitada por ele. É nesse sentido que estamos imbuídos dessa torcida para que Simone consiga se constituir nessa candidatura de centro tão necessária nesse momento”, diz Marun. Aliás, o próprio Bolsonaro teme a candidatura do ex-presidente, por entender que ele pode tomar-lhe os votos do centro.
Outros aliados de Temer afirmam que, se o ex-presidente topasse embarcar no projeto, seria uma boa opção para a terceira via por “contar com resultados a apresentar”. Ponderam, porém, que pesa contra ele o fato de ter índices de rejeição maiores do que os de Tebet, justamente por ser mais conhecido. “O governo dele teve resultados positivos, com a entrega das reformas, a redução da taxa básica de juros e o controle da inflação. Isso está na memória do brasileiro. Mas o recall também tem seus pontos negativos, em decorrência do impeachment”, diz um ex-ministro do emedebista, sob reserva.
Assessores de Temer relatam, inclusive, que ele tem sido assediado e pressionado, sobretudo por empresários de São Paulo, para viabilizar o plano, que o colocaria na cabeça de uma chapa que teria um dos ex-presidenciáveis como vice. Nesse caso, o nome do ex-governador João Doria é um dos mais fortes. Mas todos os que já pleitearam o cargo, e não tiveram sucesso nas articulações em seus partidos da chamada terceira via para prosseguir na intenção de formalizarem uma candidatura a presidente, seriam chamados para integrar a chapa. A ideia é que os ex-presidenciáveis sejam nomeados como ministros.
Temer acredita que a junção dessas forças levaria o grupo ao segundo turno. Ele tem dito a amigos que a maior preocupação dos políticos, economistas, empresários e integrantes da sociedade civil que fazem contato com ele é que a inexistência de um nome forte da terceira via poderá eleger Lula ou Bolsonaro ainda no primeiro turno, e a escolha de um desses nomes representará um grande atraso para o País. Consultado se ele poderia ser o candidato a presidente dessa iniciativa,Temer garantiu que: “A minha contribuição já foi dada, peguei o País numa situação dificílima e consegui colocá-lo nos trilhos. Meu papel agora, se possível, é conciliar e pacificar o Brasil. Nada mais”.