A duas semanas das eleições, os principais candidatos à Presidência têm concentrado seus esforços nos três principais estados do Sudeste, a região mais populosa do País – juntos, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro concentram 40,7% do eleitorado. Estão em jogo os votos de 64 milhões de eleitores, de um universo de 156 milhões. Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT) estão tecnicamente empatados em São Paulo, maior colégio eleitoral (34,7 milhões de eleitores), e no Rio de Janeiro (12,8 milhões), com tendência de vantagem para Bolsonaro. Já em Minas Gerais, segundo maior colégio (16,6 milhões), a vantagem é de Lula, que tem 46% dos votos, contra 30% do mandatário.

Pelo seu poder eleitoral, São Paulo se tornou vital para o presidente. Pesquisa Genial/Quaest mostra Bolsonaro com 37% e Lula com 36%, mas com tendência de crescimento para o capitão. É no estado que ele aposta para garantir que o petista não liquide a fatura em 2 de outubro. Conta para isso com seu candidato ao governo paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que se descolou do tucano Rodrigo Garcia, está isolado em segundo e tem chance de crescer, ameaçando o líder petista, Fernando Haddad. Mas essa arrancada está ameaçada pela própria base bolsonarista, que ameaça implodir no estado. Depois de se projetar lançando mão do capital político do ex-chefe, o carioca Tarcísio, que é neófito na política, tenta se descolar do presidente por receio de afastar o eleitor que tem aversão ao extremismo, o que vem irritando os estrategistas da campanha do capitão. Tentou até agora ficar longe das polêmicas de Bolsonaro, mas foi pego no contrapé pelo deputado estadual Douglas Garcia, da tropa de choque bolsonarista, a quem chamou de “idiota” depois que o parlamentar agrediu a jornalista Vera Magalhães em um debate na última terça-feira. As alas ideológica e pragmática da base governista entraram em guerra na defesa ou condenação da atitude, que ameaça a imagem de moderado do ex-ministro da Infraestrutura. Para tentar se salvar, ele precisa deixar o padrinho político na mão, mas com isso prejudica a campanha de Bolsonaro no maior colégio eleitoral do País. Lula, por outro lado, está incomodado com Haddad, que deseja concorrer com Tarcísio no segundo turno e por isso tenta minar preferencialmente o candidato do PSDB. Mas isso significa aumentar as chances do presidente ganhar mais votos em São Paulo, o que contraria os planos do ex-presidente.

AGRESSÃO Em São Paulo, o candidato bolsonarista Tarcísio de Freitas agora tenta se afastar do padrinho político. Chamou de “idiota” o deputado Douglas Garcia, que agrediu a jornalista Vera Magalhães (Crédito:Divulgação)

Em Minas Gerais, Bolsonaro tem ainda mais dificuldades. Lula tem 46% das intenções de voto contra 30% de Bolsonaro, de acordo com o Ipec. O governador Romeu Zema (Novo), que disputa a reeleição, segue toureando o presidente, o que vem tirando o sono dos estrategistas da campanha do chefe do Executivo. Zema, que tem 47% das intenções de votos, evita a todo custo se associar ao capitão com receio de ser contaminado por sua alta rejeição, embora em 2018 tenha chegado ao Palácio Tiradentes na mesma onda que levou Bolsonaro ao Planalto. O principal adversário de Zema no estado é o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD), que tem 31% das intenções de voto e apoia Lula. O petista queria garantir um palanque competitivo em Minas, mas é o próprio Kalil quem precisa do palanque nacional do ex-presidente para tentar romper o teto de 1/3 da preferência dos mineiros.

Já no Rio, pesquisa Genial Quaest divulgada na quinta, 15, acendeu o sinal amarelo na campanha petista. O levantamento confirma o empate técnico entre Bolsonaro e Lula, mas registrou tendência de alta para o presidente – ele oscilou um ponto percentual para cima em relação à pesquisa anterior e agora tem 40% das intenções de voto, contra 36% do petista, que caiu 3 pontos percentuais . A margem de erro é de 2,5 pontos. No estado, reduto político de Bolsonaro e seu clã, o bolsonarista Cláudio Castro (PL) tem 31% dos votos, ante 21% de Marcelo Freixo, (PSB), candidato de Lula. Entre os compromissos de campanha de Lula no estado para a próxima semana está um encontro com empresários da Associação Comercial do Rio de Janeiro. Mas quem vai é Geraldo Alckmin, considerado mais “palatável” do que o petista para o empresariado. Os três estados, novamente, viraram o “triângulo das Bermudas” para as pretensões dos presidenciáveis.