23/09/2016 - 18:00
Poker na casa do Lula.
 A turma de sempre: Sarney, Zé Dirceu, Dilma,
 Cunha e Renan.
 Todos bebem cerveja e riem alto, sentados á mesa de feltro.
 Dirceu estica o baralho e cada um tira uma carta.
 Lula sai com o rei de ouros.
 – O presidente dá as cartas – ordena Dirceu.
 Toda semana é a mesma coisa.
 Sarney nunca sobe a aposta, só sobrevive.
 Zé Dirceu dá all in em todas as mãos, atrapalha o jogo.
 Dilma não sabe jogar, só perde dinheiro.
 Renan tenta blefar, mas os outros são mais espertos.
 Cunha é flagrado com um ás na manga do paletó.
 E todos sempre deixam Lula ganhar.
 Toca a campainha.
 Os jogadores se entreolham, tensos.
 – Tão esperando alguém? – pergunta Lula.
 Não estão.
 E a pizza já chegou.
 Temem pelo pior.
 O ex-presidente faz piada disfarçando o medo:
 – Só falta ser aquele cretino de Curitiba, justo hoje que eu tô ganhando.
 Todos riem amarelo.
 Marisa sai da cozinha, deixa um prato de risoles na mesa e vai abrir a porta.
 Olha pelo buraquinho.
 – Relaxem! – grita a ex-primeira-dama – É só a morte!
 Todos se ajeitam e respiram aliviados.
 A morte, num manto negro e segurando uma foice, desliza pela sala precedida por uma ventania.
 Passa por trás de cada jogador, simulando dramaticamente golpes de foice.
 – Fala, filha! Vai levar quem hoje? Decide logo aí que nóis tamo jogando – comanda Lula, durão.
 Sarney levanta:
 – Bom, como não é comigo, aproveito pra fazer um xixizinho.
 A morte bloqueia o caminho de Sarney e o empurra de volta à cadeira.
 – A escolha é de vocês – revela numa voz gutural – vim porque o País não aguenta mais tanta safadeza. Qualquer um serve, só preciso fazer uma politicazinha. Que nem fiz na Venezuela e na Argentina, com o Hugo e o Néstor.
 – Mas somos jovens! Temos muito pela frente! – defende-se Dilma.
 – O critério não é idade, querida. É maldade – explica a morte.
 A resposta cria uma acalorada celeuma entre os convidados.
 A morte senta enquanto espera a decisão.
 Cutuca Cunha no ombro.
 – Não tem xadrez nessa casa? Prefiro xadrez.
 – Pelo amor de Deus, não fala isso! A turma morre se ouvir falar em xadrez – Cunha cochicha e volta à discussão.
 A morte embaralha as cartas com suas longas unhas.
 Depois de duas horas, os políticos chegam a um acordão.
 Dirceu abre a negociação.
 – Morte, é o seguinte: há várias formas de resolver um impasse.
 – Hum… E daí? – responde, desconfiada.
 – Apesar de realizada na vida, você deve ter ainda algum sonho – Cunha segue o jogral.
 – Uma viagem de primeira classe… uma vila na Provence… – diz Sarney.
 A morte olha para o infinito, coçando o queixo.
 – Para dizer a verdade, eu sempre quis ter um… – deixa escapar, mas rapidamente volta ao dever do dia – Não adianta! Eu preciso levar alguém hoje, sem falta!
 Três dias depois.
 Na internet a manchete:
 “Empreiteiro morre poucas horas antes de sua delação premiada”.
 A morte desliga o computador, levanta e caminha vitoriosa pelo recém-adquirido apartamento em Miami.
 Da varanda pensa “hoje vai dar praia”.
 Negociando com jeito, afinal, todo mundo ganha.
 E segue o jogo.
Sarney nunca sobe a aposta, só sobrevive.
 Zé Dirceu dá all in em todas as mãos, atrapalha o jogo. 
 Dilma não sabe jogar, só perde dinheiro. 
 E todos sempre deixam Lula ganhar
(Inspirado no conto Death Knocks, de Woody Allen)