Eles conquistam a própria fama. Se o gato da Taylor Swift e o cachorro do Messi surfam na onda das celebridades, influenciadores nativos do mundo animal conquistam seguidores por mérito próprio — e também pelo trabalho dos tutores. Longe de angariar fortunas como os golden retrievers ingleses Hugo e Huxley (325 mil seguidores no Instagram), que rendem a Ursula Aitchison quase R$ 630 mil anuais, alguns pets brasileiros já permitem que os donos se dediquem somente à criação de conteúdo.

“A página surgiu quando minha sócia e esposa foi estudar fora e queria matar a saudade da cachorra. Com o tempo, começamos a colocar humor, evoluindo para uma página de memes”, diz Daniel Domingues, empresário e tutor da Cacau e do Cookie, do Cacausando (655 mil no TikTok e 161 mil no Instagram). Pesquisadores, desde 2021, ele e Lua Bittencourt vivem dos lucros de publicidade e da loja online.

NO PARQUE Passear está na rotina de Aline e Doge, e dos outros pets influencers (Crédito:Divulgação)

Carla Pires, tutora dos cachorros vira-latas Bambino e Rogerinho (1,7 milhões no TikTok e 322 mil no Instagram) ao lado do companheiro Matheus Garcia, conta que demorou dois anos para ter confiança e imergir na vida de mãe de pet influencer. Atualmente, faz especialização na sua área, História da Arte, por puro prazer.

“Humana” do Klébinho (450 mil no TikTok e 193 mil no Instagram), a modelo Fernanda Durski também não imaginava que acabaria se dedicando integralmente à fama do gatinho. Como na maioria dos casos, foi quando um vídeo bombou nas redes que enxergou esse potencial. “Postei um vídeo dele tentando se coçar sem a quarta pata, que acabou viralizando”, fala. Hoje, ela posta conteúdos orgânicos e diários, como a maioria dos pais de pet, e conta com a renda de publicidades, cujos pacotes variam de R$ 2,5 mil a R$ 4,5 mil.

Na vida de influencer, a propaganda é mesmo a alma do negócio, mas o sonho da marca própria ainda existe. “Se eu tivesse produtos sendo oferecidos, poderia viver da monetização gerada pelo perfil. Por isso amadureci essa ideia e estou investindo em planejamento”, conta Aline Prado, mãe do pet Doge, o Golden Terriever (74 mil no Instagram). O influenciador digital Zanq, tutor dos huskies Gudanzinho (8,2 milhões no TikTok e 1,5 milhões no Instagram) e Blant (2,4 milhões no TikTok e 689 mil no Instagram), compartilha desse desejo, mas já tira sustento das campanhas publicitárias desde o quarto mês da iniciativa. “Temos acesso a trabalhos com marcas e pessoas incríveis, como eu jamais sonhei. As portas vão sendo abertas”, diz.

O sucesso do “golden terriever”

74 MIL seguidores no Instagram

1,5 MILHÃO de pessoas alcançadas nos últimos 90 dias

R$ 28 MIL foi a renda gerada pelo perfil em 2022

Nobreza de causa

Para além dos negócios, pode haver histórias emocionantes e importantes por trás desses perfis. “Tem seguidor que brinca que o Miu, o Mu e a Morcega são os pets virtuais deles. É muito bom ver o quanto divertem as pessoas, além de quebrar preconceitos contra gatos”, lembra Karoline Freitas, “humana” do trio de gatinhos (610 mil no TikTok e 443 mil no Instagram), com o companheiro Guilherme Antunes.

Além de seguir tendências, influenciadores levantam bandeiras como adoção e inclusão. O Cacausando tem foco em incentivar que o cão preto de pelo curto, sem raça definida, seja adotado — ele é o menos procurado no Brasil, segundo a Ampara Animal. “É claro que é legal ver os áudios dos bichinhos sendo utilizados, mas quando as pessoas falam que adotaram ou passaram a valorizar mais os animais é que vem a maior recompensa”, confessa Domingues.

INCLUSÃO Foi com um vídeo do Klébinho tentando se coçar com três patas que ele viralizou (Crédito:Divulgação)

Antes do Doge, Prado iniciou o perfil pet com outro golden retriever, o cadeirante Troy. “Ouvir do fabricante da cadeira de rodas que eu ajudei a salvar centenas de animais que teriam sido eutanasiados dá muito orgulho. Não existe influência sem propósito”, comenta. Ela venceu o pânico e a depressão com a ajuda do cachorro.

“Pets influencers podem sensibilizar para uma boa convivência entre humanos e não-humanos”, ressalta Letícia Yumi Marques, coordenadora e professora nos cursos de extensão em Direito Animal e Direito Ambiental Empresarial do Mackenzie. “Eles podem ser importantes aliados para o fortalecimento dos direitos animais, porém a produção de conteúdo deve priorizar o bem-estar”, finaliza.