11/11/2022 - 9:30
Flordelis dos Santos de Souza, 61 anos, cantora, pastora, mãe de 55 filhos e com sua vida amplamente divulgada na imprensa. Em sua primeira candidatura a deputada federal pelo Partido Social Democrático (PSD), conquistou 196.959 votos, ocupando o 5º lugar entre os mais votados no Rio de Janeiro. Sua plataforma política estava associada aos direitos da família, contra a ideologia de gênero e em prol das comunidades fluminenses. Alinhada ao discurso do candidato Jair Bolsonaro, amiga da futura primeira-dama Michelle e com a religião como suporte, Flordelis despontou no cenário com a promessa de atuar em prol da multidão de admiradores. Em 2019, no primeiro ano no cargo, a pastora participou da autoria de 127 projetos e relatou mais cinco. No mesmo ano, uma tragédia ofuscou a parlamentar e a levou para as páginas policiais: Anderson do Carmo, seu marido, foi alvejado com 30 tiros na garagem do casal. Após a execução brutal, Flordelis protegeu-se no drama de uma viúva clamando por justiça, sustentando-se com um mandato público e sua imunidade parlamentar.
As descobertas na investigação do assassinato de Anderson do Carmo revelaram uma trama macabra. Segundo a denúncia apresentada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, Flordelis teria elaborado um plano para envenenar o marido pelo menos seis vezes, em refeições e bebidas, de forma sucessiva e acumulativa. Anderson não morreu, pois recebeu socorro rápido. O fracasso do plano exigiu outra ação, culminando na compra de uma arma e na ligação, feita pela pastora ao filho Flávio, em 16 de junho de 2019, avisando que o marido estava na garagem. Filho biológico de Flordelis, Flávio foi o autor dos disparos e está condenado a 29 anos de prisão. A motivação do crime seria financeira: o pastor mantinha um controle rigoroso nas finanças da família. O julgamento da ex-deputada, nesta semana, com dois filhos adotivos e uma neta biológica também acusados, trouxe depoimentos que apontam Flordelis demonstrando satisfação com a morte do marido, enquanto testemunhas falam que ela e Anderson mantinham relações sexuais com alguns dos filhos adotivos.

O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados formalizou o pedido de cassação em relatório sustentando que a ex-deputada foi antiética ao utilizar do mandato para coagir testemunhas e ocultar provas. Em votação histórica, a pastora foi a primeira mulher a perder o mandato, com 437 votos a favor e 7 contra.
Impedido de disputar a eleição, ex-vereador Gabriel Monteiro lança então candidaturas do pai e da irmã, eleitos respectivamente no Rio como deputados federal e estadual
Ex-vereador no Rio de Janeiro pelo PL, Gabriel Monteiro, 28 anos, foi preso preventivamente na última segunda (7), pela acusação de estupro. Ex-policial militar, ex-integrante do Movimento Brasil Livre (MBL) e youtuber, chegou a ter mais de 23 milhões de seguidores em todas as suas redes. Monteiro ganhou notoriedade ao produzir vídeos com denúncias públicas e sinalizar que sofria ameaças. Ao se candidatar em 2020, o youtuber alinhou-se às pautas do presidente Jair Bolsonaro e foi o terceiro vereador mais votado do Rio, com 60.326 votos. Em seu primeiro ano na Câmara, apresentou apenas 16 projetos. Em março deste ano, ex-funcionários o acusaram de assédio sexual e moral, além do vazamento de um vídeo íntimo em que tinha relações com uma menor. Monteiro também foi acusado de forjar o conteúdo do seu canal, encenando conteúdos que pareciam reais.
A cassação do vereador, em agosto, foi aprovada por 48 dos 50 votantes, com justificativas claras: quebra de decoro parlamentar, acusações de estupro, assédio sexual e vídeos forjados na internet. Mas o motivo da prisão é a denúncia de uma mulher de 23 anos, que teria sido estuprada e ameaçada com arma de fogo, no período em que a investigação sobre ele já estava aberta. A mulher diz ter contraído vírus HPV, e o ex-veresdor teria confirmado estar infectado. No olho desse furacão ultrajante, Monteiro tentou se candidatar, mas foi impedido pela Lei da Ficha Limpa. Ele patrocinou então as candidaturas do pai, Roberto Monteiro, e sua irmã, Gisele, eleitos como deputado federal e estadual, respectivamente.
Ao serem eleitos, Flordelis e Monteiro receberam imunidade parlamentar, um conjunto de direitos para proteção do exercício do mandato e garantia de liberdade na atuação como representante do povo. Os dois ex-parlamentares usufruíram das prerrogativas do poder em benefícios próprios para ocultar crimes e atrapalhar as investigações. Após a perda dos mandatos, encontram-se na mesma posição: criminosos comuns.