11/12/2020 - 9:30
Um grupo de influenciadores digitais tem atuado para promover o presidente Jair Bolsonaro e sua ideologia de ódio. A estratégia, no entanto, não é franciscana. O lucro é certo e a Polícia Federal (PF) já investiga os beneficiados e seus rendimentos. Os blogueiros do presidente faturam alto. Segundo as investigações, o idealizador e apresentador do canal “Foco do Brasil”, Anderson Azevedo Rossi, faturou R$ 1,7 milhão entre março de 2019 e maio de 2020. Os proprietários do blog “Folha Política”, Ernani Fernandes Barbosa e Thaís Raposo, não ficam pra trás, eles têm rendimento de R$ 100 mil por mês.

Esquema ameaçado
Por sua vez, o grande articulador dos blogueiros, o bolsonarista Allan dos Santos ganha altos valores da Secom, embora tenha declarado a PF receber apenas R$ 12 mil mensais. Valor incompatível com o custo da mansão que tinha alugada em Brasília que podia chegar a R$ 30 mil, conforme avaliação de corretores de imóveis. Santos é o fundador do programa de internet “Terça Livre” e fugiu para os EUA no fim de julho, pouco depois da Polícia Federal proceder diligência na sua residência. Dos Estados Unidos, o blogueiro acusou China, Coréia do Norte, um advogado do PT e os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso de promoverem uma conspiração internacional contra o presidente Bolsonaro. Ainda afirmou que ele e sua família estavam ameaçados, sem apresentar sequer uma única prova.
Se o grande operador técnico da estratégia é Allan dos Santos, resta saber quem é o articulador político que dá sustentação ao esquema. A principal linha de investigação aponta para o filho do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), como o comandante do “gabinete do ódio”. A tática de acessar informações privilegiadas e distribuí-las aos blogueiros parceiros vem, a cada dia, sendo desmascarada. O assessor especial da Presidência da República, Tércio Arnaud Tomaz, seria um dos responsáveis por transmitir os conteúdos. Embora Tomaz negue participação, ele participava de um grupo de WhatsApp administrado por Allan dos Santos que teria como foco promover reuniões para discutir o governo federal. Em depoimento a PF, o blogueiro Anderson Rossi disse ter recebido vídeos do presidente, por meio de WhatsApp, enviados por Tomaz. Outro funcionário do presidente que auxilia os blogueiros é o tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid. Em depoimento, Cid disse que já manteve contato com Allan dos Santos e o blogueiro pedia informações que pudessem ser utilizadas no programa “Terça Livre”. A PF está bem próxima de encurralar os auxiliares de Bolsonaro. Existe a suspeita de que os altos valores arrecadados possam ser repassados para políticos ou funcionários do governo, enquanto isso, alguns blogueiros não passariam de “laranjas”.
A CPMI das Fake News apurou que o governo utilizou sem moderação os canais para divulgar propaganda da Reforma da Previdência em 2019. Foram 57 mil inserções de VT no canal Folha do Brasil (hoje chamado Foco do Brasil) e 1,4 mil anúncios no Terça Livre. Além disso, o canal Foco do Brasil obteve acesso privilegiado ao satélite da TV Brasil e consegue transmitir em tempo real o conteúdo gerado pelo governo, o que aumentou sobremaneira a vantagem sobre sua concorrência. A Secom, no entanto, emitiu nota negando qualquer repasse de dinheiro aos blogueiros ou incentivo a atos contra a democracia. “Fazer correlação com vídeos e conteúdos disponíveis publicamente na rede, em blogs de terceiros, é mero exercício de ficção, querendo impor a esse governo relação com atos antidemocráticos”, diz a nota.
A questão das manifestações de ódio contra o STF e Congresso, são os principais temas investigados. Bolsonaro, inclusive, participou dos atos antidemocráticos. O cientista político Rubens Figueiredo diz que as milícias digitais têm criado, “de forma artificial, correntes de opinião para influenciar as tomadas de decisão ou abalar a imagem das instituições”. Para ele, “apoiar manifestações contra a democracia é ilegítimo, para não dizer irresponsável”, afirma Figueiredo. As milícias digitais atacam as instituições democráticas e proliferam fake news protegidas pelo anonimato da tecnologia, mas as investigações encontraram vários rastros e os seus articuladores estão a cada dia mais expostos.