Não importa a rede social, eles estão em todos os lugares e, provavelmente, tentando vender algum produto, mesmo que de forma velada. Os influenciadores – celebridades que movimentam a internet com dancinhas, corpos perfeitos, viagens incríveis ou humor meticulosamente ensaiado – nunca geraram tanta desconfiança por parte do público como agora. Isso porque quem os acompanha começou a perceber que há cada vez menos sinceridade no conteúdo produzido, sem falar das táticas de marketing de gerenciamento de imagem, como pausas programadas na carreira e discursos vazios pró-saúde mental que acabaram se tornando lugar comum entre os adeptos da profissão. Há ainda uma saturação no formato comercial do negócio, como a maciça divulgação de produtos de beleza e emagrecimento, procedimentos estéticos ou ainda sorteio de produtos eletrônicos, esquemas de pirâmides financeiras e compra de criptomoedas.

Entre os casos polêmicos mais recentes está o do influenciador digital Luva de Pedreiro. Recentemente, ele anunciou que vai parar de produzir seus vídeos futebolísticos e que pretende levar uma vida comum. Para isso, ele adotou uma técnica já conhecida para causar impacto: excluiu todas as publicações de seu perfil no Instagram. Iran Ferreira, nome real do influenciador, conquistou o Brasil no início deste ano com seus vídeos caseiros, onde aparecia fazendo belos gols em um campinho de barro. Com seu carisma, atraiu a atenção de milhares de seguidores no mundo todo. Contudo, a fama do dia para a noite trouxe problemas e também conflitos milionários com seu empresário. Ao falar que pretende “viver a vida normal, sossegado” atraiu a suspeita de seus seguidores. Golpe de marketing? Reposicionamento de marca? Dias depois, Luva de Pedreiro, dando sinais de prestígio, apareceu ao lado da presidente do Palmeiras, Leila Pereira.

ÓDIO A youtuber Antonia Fontenelle demonstra preconceitos e tenta impor visão política extremista (Crédito:Divulgação)

Para Nicole Pappon, especialista em marketing de influência e fundadora da Grapa Digital, agência responsável por diversas carreiras de influenciadores, o que muitas pessoas não entendem é que ser influenciador é uma profissão como qualquer outra — com pressões, prazos e cronogramas a serem cumpridos. “Ser um bom influenciador é como gerir um bom negócio, é preciso estratégia. Não é acordar e publicar qualquer coisa”, explica. Ou seja, aquela frase motivacional que você viu pela manhã vindo da conta de um ex-participante de reality show foi programada para estar lá, com análise do público alvo e com expectativa de algum retorno. Nicole explica que está na moda o “marketing de sumir”, método já adotado por grandes nomes, como Beyoncé e Rihanna, mas que está banalizado. “A celebridade coloca uma imagem toda em preto no perfil e deleta todas as fotos. Provavelmente ela irá lançar um produto ou novo visual”, diz.

Há ainda práticas usadas por diversas contas para permanecer entre os assuntos mais comentados da rede, caso da humorista Gkay, ou Géssica Kayane. Ela é sempre notícia em sites de fofoca por usar roupas caras, mas que parecem poucas práticas e lembram até fantasias. Sua última polêmica? Comprou uma bolsa de vidro de R$ 13 mil reais. “Finalmente chegou a minha bolsa de vidro. Cabe o quê dentro? Nada! Só a minha dignidade, minha paciência. Tenho medo até de tocar”, revelou em seus stories no Instagram. O objetivo é chocar, levar os seguidores a reagirem, nem que seja negativamente, à publicação. Na internet, cada vez mais comandada por algoritmos, vale a máxima “falem mal, mas falem de mim”.

“Finalmente chegou a minha bolsa de vidro. Cabe o quê dentro? Nada! Só a minha dignidade, minha paciência. Tenho medo até de tocar” Gkay, humorista que gastou R$ 13 mil no objeto (Crédito:Divulgação)

A competição entre criadores de conteúdo que se assemelham entre si também é acirrada, o que leva a muita intriga e discussão. Porém, nem sempre as brigas são verdadeiras, mas apenas uma maneira de fazer com que as “torcidas” – como os fãs às vezes são chamados, briguem entre si e aumentem o engajamento das contas. Há também celebridades que usam o ódio e a polêmica vazia, muitas vezes sem medir as consequências de seus atos, para ganhar fama. Caso da youtuber Antonia Fontenelle, que já agrediu minorias, usou termos racistas e foi uma das responsáveis pelos ataques sofridos pela atriz Klara Castanho, que teve sua privacidade violada e exposta, de maneira cifrada. Contudo, vale lembrar que nem tudo é maldade e vontade de aparecer. Há personagens nesse universo que souberam se reinventar e realmente são honestos com seus problemas de saúde. Quem possui uma base de apoio e uma carreira consolidada, raramente precisa se utilizar de maneiras suspeitas para fazer seu ganha pão. Se todos erram, claro, fica cada vez mais evidente que uns erram muito mais que os outros e são, acima de tudo, uma péssima influência.