O imortal Ulysses, romance do irlandês James Joyce publicado há mais de um século, segue enigmático a muitos leitores. Transpor sua complexa linguagem para o teatro, portanto, deve ter sido um enorme desafio para o tradutor do texto, Caetano W. Galindo, e para as diretoras Daniela Thomas e Bete Coelho – Bete também atua como atriz . Em cartaz até 26 de março no Teatro Unimed, em São Paulo, a peça aborda a relação do casal protagonista, Leopold e Molly Bloom. Depois de passar 18 horas, no dia 16 de junho de 1904, passeando pelas ruas de Dublin, ele volta para casa, onde encontra a esposa adormecida. Molly desperta e dá início, então, a sua odisseia mental — um fluxo ininterrupto de pensamentos que a levam de volta ao passado, aos sonhos da infância e aos amores proibidos do adultério. Para construir sua performance, Bete Coelho afirma ter-se inspirado em outras mulheres fortes da dramaturgia, como Cacilda, de José Celso Martinez Corrêa, e Medeia, quando foi interpretada por Consuelo de Castro. Diz ainda que o desejo de fazer o papel de Molly vem de longa data, quando conheceu a personagem por meio de Haroldo de Campos, em saraus e eventos culturais. A cenografia de Daniela Thomas, faz referência conceitual ao livro: assim como na obra de Joyce, o público tem acesso a diversos ângulos da história.

Outro irlandês na dramaturgia

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James Joyce não é o único escritor da Irlanda a brilhar nos palcos paulistanos nessa temporada: O Dilema do Médico (foto), adaptação de Bernard Shaw, está em cartaz no Auditório do MASP, até 26 de março. É a primeira vez que o texto é encenado no País. Dirigido por Clara Carvalho, conta a história de um cientista que descobre a vacina contra
a tuberculose. Como tem uma única dose à disposição, tem de optar entre aplicá-la em um artista ou em outro médico. Em tempos de pandemia, a discussão sobre o valor da ciência e a ética médica traz o texto de 1953 para a atualidade.