02/12/2022 - 9:30
Por mais que se concentre em um tema, um bom documentário nunca é sobre um único assunto. Sempre traz o contexto da sua época, as consequências dos fatos abordados e como eles moldaram o que veio depois. É isso que torna Freddie Mercury: The Final Act (Star+) um excelente filme – e merecidamente vencedor do Emmy, o Oscar da TV. Além de ilustrar o talento do líder do Queen, um dos maiores artistas do século 20, traça um panorama sobre o advento da AIDS nos anos 1980, do preconceito à contribuição que a fama do Queen deu à campanha de prevenção.

O documentário traz uma visão positiva. Sua narrativa cronológica não começa no início da carreira de Mercury, em 1973, mas em 1986, quando o Queen já era a maior banda do mundo e acabara de lotar dois shows com ingressos esgotados no estádio de Wembley, em Londres. O guitarrista Brian May diz que estranhou quando o vocalista, após a apresentação primorosa, desabafou: “acho melhor pararmos de tocar ao vivo”. Para o baterista Roger Taylor, foi um indício de que “havia algo de errado com Freddie”. Sua homossexualidade não era segredo, mas também não era divulgada abertamente, nem pelos cruéis tabloides ingleses. Nos anos 1980, surgiu na sociedade um forte movimento de preconceito. A morte do ator Rock Hudson, a primeira celebridade a ser vítima, em 1985, trouxe atenção ao problema. Mas a reação foi a pior possível: políticos conservadores iam à TV defender que a Aids era uma “resposta divina a comportamentos inadequados”. Ao descobrir que era HIV positivo, Mercury recolheu-se e passou a se dedicar exclusivamente ao trabalho em estúdio.

Antes de sua saúde piorar, o Queen ainda gravaria material que faria parte do repertório de três álbuns: The Miracle (1989), Innuendo (1991) e Made in Heaven, lançado como homenagem póstuma em 1995. Mercury morreu em 24 de novembro de 1991. No ano seguinte, o Queen transformou a tragédia em conscientização: reuniu artistas de todos estilos em um show em homenagem a Mercury, no estádio de Wembley, que foi assistido ao vivo por um milhão de pessoas. Elton John, George Michael, Liza Minelli, David Bowie e dezenas de grandes nomes cantaram ao mundo a importância da prevenção e do combate ao preconceito. Além da música, Mercury nos deu sua fama em prol de uma causa.