04/11/2022 - 9:30
Donald Trump pode ser acusado de conspirar contra a democracia, de golpista, de roubar documentos com segredos de Estado, mas segue imune a inquéritos e prisões, arrastando multidões em seus comícios. Ele está em tour atrás de apoio aos seus candidatos às eleições de meio de mandato, que ocorrerão nesta terça-feira, 8, e renovam a Câmara e um terço do Senado dos EUA. O cenário político americano pode mudar se o Partido Republicano tomar o poder nas duas Casas, dificultando a gestão de Joe Biden e pavimentando o caminho para a volta de Trump em 2024. Isso porque, além de serem vistas como referendo ao trabalho de quem está em exercício na Casa Branca, as eleições também servem como um prenúncio das eleições presidenciais seguintes. Obcecado por um segundo mandato, Trump tenta atropelar qualquer conservador que ouse disputar com ele a indicação do partido para concorrer à Presidência.
O site FiveThirtyEight, que analisa resultados de institutos de pesquisa, aponta um cenário apertado. Os republicanos têm a preferência de 46,1% dos eleitores e os democratas, de 45%. Joe Biden mantém 42,4% de aprovação, ante 44% em agosto. Trump, ao contrário, cresce. No fim de 2019, tinha 34% de aprovação, mas reagrupou radicais, voltou aos palanques — e aos bastidores — e agora aparece quase empatado com Biden em opiniões favoráveis: 41,1%.
A cada dois anos, as 435 cadeiras da Câmara são renovadas, além de 35 do total de 100 do Senado (onde o mandato é de seis anos). O sucesso do plano de Trump para voltar à Presidência depende, ao menos em parte, das eleições de meio de mandato, quando também governadores, secretários de estado e procuradores são escolhidos. A previsão é que a Câmara terá maioria republicana por boa margem. No Senado, a decisão será mais equilibrada, com duas ou três cadeiras que podem determinar a nova maioria.


Rédeas soltas
Trump nunca deixou de atuar como “animal político”. Mirando a reabilitação, atropelou membros do próprio Partido Republicano. Nas primárias, garantiu protegidos à corrida para senador, como o ex-jogador de futebol americano Herschel Walker pela Geórgia; o médico midiático Mehmet Oz pela Pensilvânia e o escritor JD Vance por Ohio. Ainda se vingou de uma de suas maiores críticas, Liz Cheney, vice-presidente da comissão que investigou a participação do ex-presidente na invasão ao Capitólio: a deputada perdeu a vaga do Partido Republicano para a disputa ao Senado pelo Wyoming — Harriet Hageman, ungida por Trump, foi a vencedora. Foi uma derrota simbólica, já que a política é filha do ex-presidente Dick Cheney, um dos falcões do partido, líder de uma geração que foi varrida por Trump.
Há várias pautas divergentes dentro do Partido Republicano. As diferenças são gritantes em valores caros aos americanos, como democracia e imigração, que remontam à formação do país e que servem como um fraco anteparo às ambições desenfreadas de Trump. Ele foi chamado de golpista por alguns correligionários quando se negou a aceitar a derrota para Joe Biden, e é malvisto por seu radicalismo. Já foi visado pela sua defesa de aceitar apenas “caucasianos” como imigrantes, por exemplo, ou por seu apoio a governadores que proíbem crianças latinas de irem à escola. Mas seus aliados venceram disputas-chave nas prévias, e ele conseguiu manter o controle do partido, contra todas as previsões iniciais.
Mesmo assim, alguns conservadores se vêem politicamente enfraquecidos por essas posições extremistas e trabalham — até certo ponto — para reduzir o espaço de Trump no partido. Tanto que houve apoio à “CPI” que investigou seu papel na tomada do Capitólio, à invasão policial para apreensão de documentos secretos levados da Casa Branca à mansão da Flórida, e à prisão de Steve Bannon, consultor do ex-presidente. Republicanos também votaram a favor do orçamento de Biden, que engloba projetos de infraestrutura e programas de reforços sociais — foi o caso do líder Mitch McConnell, que depois do episódio do Capitólio ainda chamou Trump de “louco”. Há aqueles com interesses diretos, como os governadores da Flórida, Ron DeSantis, e do Texas, Greg Abbott, que concorrem à reeleição na terça-feira pensando em usar resultados para disputar, dentro do Partido Republicano, a vaga de candidato à Presidência em 2024. O líder populista ignora essas divergências e segue trotando sobre os correligionários conservadores, com a ideia fixa de voltar a ser presidente da América (First).