11/11/2022 - 9:30
A brasileira Rayssa Leal, de 14 anos, é a melhor skatista do mundo. A adolescente de Imperatriz, no Maranhão, se consagrou campeã do SLS Super Crown World Championship, realizado no domingo (6), no Rio de Janeiro. O lugar mais alto do pódio foi o resultado de um ano perfeito, em que ela dominou o circuito e venceu todas as etapas da temporada, em Jacksonville, Seattle e Las Vegas, nos EUA, e no Rio de Janeiro. Com o feito, é a atleta mais jovem a conquistar o título mundial e a única a vencer as quatro fases da competição.

Rayssa, que já tinha entrado para a história ao ganhar a medalha de prata na Olimpíada de Tóquio, foi às lágrimas ao relembrar a própria trajetória na modalidade, iniciada aos seis anos de idade. “Ganhar esse troféu e o título de campeã mundial no Brasil não tem preço. Fiquei emocionada, chorei muito. Eu nem estava esperando, imaginei que ficaria em segundo lugar”, afirmou. “Desde pequena assisto às competições da Street League e vejo meninas que me inspiram. Em 2018, mandei até uma mensagem para o dono da liga, pedindo para participar. Hoje estou aqui”.

do skate antigamente”
Dora Varella, 21, skatista profissional (Crédito:Divulgação)
O skate começou como brincadeira para Rayssa. Aos sete, ela viralizou na internet com um vídeo realizando manobras complexas enquanto vestia uma fantasia de fada. Ganhou logo o apelido de “Fadinha”, com direito a compartilhamento nas redes sociais por Tony Hawk, uma lenda no esporte. Desde então, a carreira da maranhense só evoluiu. Seus pais, Haroldo Leal e Lilian Mendes, que sempre incentivaram a filha, admitem que não imaginavam tamanhas proezas tão cedo. Aos onze, ela venceu a fase de Los Angeles da SLS; aos treze, fez o País chorar ao se tornar a brasileira mais jovem a receber uma condecoração olímpica; esse ano, já havia levado a primeira medalha de ouro no radical circuito dos X-Games, no Japão.
A consagração de Raíssa é a coroação da atividade dos skatistas, que há anos colecionam revelações. Entre elas está Letícia Bufoni, a primeira brasileira a vencer a Super Crown. “Nosso País é uma potência do skate. Com essa trajetória em 2022, porém, a Rayssa provou que temos uma nova heroína”, afirma Pedro Dau Mesquita, cofundador da 213 Sports, uma das organizadoras da liga. Segundo ele, para que um esporte tenha amplitude nacional é preciso alguns componentes: uma base de fãs sólida, transmissões pela TV, rivalidade entre os competidores e um grande ídolo. “Rayssa catalisa todos esses ingredientes. Ela não apenas atrai patrocinadores, como engaja os fãs e ainda desperta o interesse da mídia”.
Atletas profissionais também não poupam elogios. Dora Varella, de 21 anos, que também representou o Brasil na Olimpíada de Tóquio, afirma que a adolescente abriu novos horizontes. “Ela levou o esporte ao alcance de quem não o conhecia e mudou a visão deturpada que se tinha do skate antigamente, algo marginalizado e sem futuro”, diz. Kelvin Hoefler, de 29 anos, medalhista de prata no Japão, considera a colega um estímulo: “Meninas da idade dela podem se inspirar”.


Ana Victória Santos, 7, paraskatista (Crédito:Divulgação)
Isso tem acontecido na prática. Em São Paulo, o projeto Skate Para Elas, que inicia meninas e mulheres no esporte, registrou um boom de interessadas no último ano. Amanda Mary, coordenadora do programa, confirma a curiosidade do público. “Cheguei a ter 200 pessoas em um grupo. O skate alcançou gente que nunca tinha visto uma competição dessas. Até as velhinhas do meu bairro falam sobre a Rayssa”, afirma.
No Rio de Janeiro, o incentivo da Fadinha foi além. Inspirada por Raíssa, Ana Victória Santos, de 7 anos, hoje é paraskatista. A garota, que teve as pernas amputadas por uma malformação congênita, surpreende nos torneios. “A Rayssa apareceu em uma fase de aceitação da minha filha. Ela se perguntava por que era assim e as crianças olhavam diferente para ela”, diz a mãe, Monique da Silva. “Com o skate, Ana passou a ser exemplo na escola. Ela quer um dia estar em uma paraolimpíada”. Uma prova de que as façanhas da atual campeã mundial superam as rampas.