27/05/2022 - 9:30
A diáspora crescente em todo o planeta fez com que, pela primeira vez, se ultrapassasse na semana passada o trágico recorde de mais de cem milhões de refugiados no mundo. A contabilização dos desvalidos que emigram e colocam suas vidas e a de seus familiares em risco, fugindo de guerras, da fome e de doenças, é feita pelo Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur). Um de seus integrantes, Filippo Grandi, declarou: “cem milhões é um número alarmante e cruel. É um recorde que nunca deveria ter sido estabelecido. Ele deve servir de urgente alerta”. Em 2020, quando os refugiados eram 82,4 milhões, a ONU já não mais se perguntava se infelizmente nós chegaríamos aos cem milhões, tal era a certeza, mas indagava, isso sim, quando alcançaríamos essa perversa marca diante do aumento de estados nacionalistas e belicosos e da xenofobia de povos e governos. Além da guerra provocada pela criminosa invasão da Ucrânia, por parte da Rússia, o relatório do Acnur cita como grande e crônico causador do êxodo o quadro de total desrespeito aos direitos humanos que atualmente é visto em países como Etiópia, Mianmar, Burkina Fasso e Afeganistão – nesse último, o governo fundamentalista do Talibã acaba de decretar que até as mulheres que trabalham como apresentadoras na televisão têm de aparecer na tela com o rosto coberto. Calcula-se que até o final de 2024 poderá dobrar o número de imigrantes e refugiados.
Se reunidos em um único país, os 100 milhões de refugiados formariam uma nação que seria a 14ª em densidade demográfica
Partir para não morrer

Com mais de seis milhões de ucranianos deixando o seu país a partir de fevereiro, quando começaram os bombardeios e a invasão das tropas russas ordenados por Vladimir Putin, a Ucrânia tem papel determinante no total de refugiados e emigrantes. E nem poderia ser diferente, uma vez que a atrocidade do presidente russo sequer distingue entre militares e população civil, mulheres e homens, adultos e crianças, jovens e idosos. No próprio território ucraniano,
a ONU estima que oito milhões de pessoas se desloquem frequentemente à procura de pontos mais seguros. A maioria delas acaba atravessando fronteira em busca abrigo na Polônia. Segundo Matthew Saltmarsh, porta-voz do Acnur, cerca de cinco milhões de refugiados já estão em áreas polonesas.
COMPORTAMENTO
Augusto Aras e a tentativa de sopapos

Não fica bem a um procurador-geral da República querer agredir alguém que dele discorde – e não é só uma questão de etiqueta, o que está em jogo é o espírito antidemocrático de quem tenta agredir. Está-se falando de Augusto Aras, na terça-feira 24, na eleição de membros às câmaras de Coordenação e Revisão do MPF. Aras permitiu que o seu aliado Joaquim Barros Dias fosse votado, mesmo sem estar inscrito — o que, em si, já é ataque à democracia: se pode ser votado nessa condição, porque se fez o ritual de inscrição? Disso veio o bate boca de Aras com o subprocurador-geral Nívio de Freitas. “se vossa excelência quer respeito, me respeite”, disse Freitas. “vossa excelência não é digno de respeito”, devolveu Aras, partindo em direção do colega. Muita gente interveio. Não se trocaram sopapos.
BRASIL
Bolsonaro no Planalto, pena de morte no Rio de Janeiro, câmara de gás em Sergipe
Não é de hoje que alguns integrantes da Polícia Militar do Rio de Janeiro confundem dolosamente operações em bairros e comunidades da cidade, visando a prender traficantes, com a efetivação de chacinas nesses locais. O mais recente exemplo da aplicação de pena de morte por parte de PMS se deu na semana passada, na Vila Cruzeiro, no bairro da Penha. A PM passou por lá. Número de presos: zero. Número de mortos: vinte e seis pessoas, até à tarde da quinta-feira 26. Há uma novidade: alguns PMS, certamente ancorados nas falas ditatoriais que emanam do Palácio do Planalto, tornaram-se também petulantes. Jogaram a culpa pela chacina sobre o STF. Alegam que houve migração de traficantes para o local depois que a Corte fixou, no pico da pandemia, que ações policiais devem ocorrer com a cautela exigida por lei. Colocar a culpa no STF é tentar desestabilizar a democracia. É urgente que as autoridades do Rio de Janeiro ajam de forma constitucional, sob pena de serem cúmplices na implantação de uma pena de morte particular, o que caracteriza Estado de Exceção. Se elas endossam atos de Jair Bolsonaro, que elogiou a operação e vive a atentar contra as instituições democráticas, isso é problema delas. A lei existe para ser cumprida. O ministro Edson Fachin declarou que vê com muita “muita preocupação mais uma ação policial com índice tão alto de letalidade”. Em Sergipe, um enfermo mental, com remédio e receita no bolso, morreu porque policiais rodoviários federais o teriam trancado em um camburão com gás lacrimogêneo. São esses os policiais para os quais Bolsonaro dá medalhas e aumentos salariais.