“Vamos derrotar a esquerda radical, os socialistas, os marxistas e os racialistas. Vamos parar a cultura de cancelamento da esquerda e restaurar a liberdade de expressão e eleições livres.” Esse texto poderia muito bem compor a cartilha de algum movimento fascista do passado, mas não. Ele está inserido no site de apresentação da segunda edição do encontro da CPAC (Conferência de Ação Política Conservadora), realizado neste final de semana em Brasília, sob coordenação do deputado Eduardo Bolsonaro, o filho do presidente que se arvora como o mais genuíno integrante da extrema direita. O 03 reunirá parlamentares da direita brasileira, mas ostenta como troféu principal do evento a presença do filho do ex-presidente americano, o empresário Donald Trump Jr. O encontro é um tira gosto para o prometido ato antidemocrático que está sendo organizado por seu pai para este Sete de Setembro, quando os bolsonaristas prometem manifestações contra o Estado Democrático de Direito.

VASSALAGEM Eduardo segura a filha Geórgia ao lado de Trump e da mulher Heloísa (Crédito:Divulgação)

Apesar da presença do filho de Trump, a reunião da conferência conservadora deste ano não contará com nenhum palestrante internacional. A CPAC Brasil 2021 divulga em seu site na internet uma lista de convidados que vai de ex-ministros da ala ideológica que saíram chamuscados do governo, como Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Ricardo Salles (Meio Ambiente), até figuras bizarras, como o secretário de Cultura, Mario Frias. O ex-assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Filipe Martins, franco defensor do supremacismo branco, também está sendo anunciado como expoente do evento.

O que Eduardo deseja mesmo com esse tipo de conferência é manter ativo o seu projeto de ter influência na diplomacia brasileira, que vem desde os tempos em que tentou ser nomeado embaixador nos Estados Unidos. Com essa iniciativa fracassada, o 03 procura agora compensar a saída de Ernesto Araújo do Itamaraty e nomear amigos para cargos estratégicos em importantes embaixadas do País mundo afora. Contando com a ajuda de Araújo, que pediu licença de um ano após ser escanteado nos porões do Ministério das Relações Exteriores, Eduardo emplacou, por exemplo, o policial federal Fabrício Scarpelli, seu amigo íntimo, para um posto na embaixada em Miami (EUA).

Ao tomar posse no cargo, Scarpelli vai embolsar um salário de R$ 38 mil e um adicional de R$ 91 mil a título de ajuda de custo para fazer a mudança. O outro amigo do 03 contemplado com um cargo em uma embaixada foi João Paulo Dondelli, segurança de Jair Bolsonaro na época que o então candidato a presidente foi alvo de uma facada durante um evento de campanha na cidade de Juiz de Fora (MG). Foi Dondelli quem deteve Adélio Bispo, autor do atentado. O policial será adido adjunto, o segundo cargo mais importante da PF na embaixada do Brasil em Portugal. Para se mudar para lá, ele recebeu um auxílio-mudança de R$ 97 mil. O salário é de US$ 12 mil (cerca de R$ 62 mil).

O objetivo do 03, segundo ISTOÉ apurou, seria virar um player de destaque no lobby do mercado de armas no Brasil, com ramificações internacionais, e a nomeação de funcionários nas embaixadas seria estratégica para executar seus planos. Pessoas que já foram muito próximas à família Bolsonaro ouvidas pela reportagem confidenciaram que a ambição de Eduardo por ampliar o poder no exterior tem uma explicação lógica. Essas indicações podem ajudá-lo a se fortalecer no mercado internacional de armas. A médio prazo, Eduardo pensa em se dedicar ao negócio de venda de armamentos ao governo e lucrar com a cobrança de comissões substanciais.

Segundo um antigo aliado do capitão, o 03 deseja atuar para favorecer alguns fabricantes de pistolas, como a norte-americana Sig Sauer, de origem alemã. “Ernesto Araújo está ligado a Eduardo e a Steve Bannon nessa história. A ideia de Eduardo é, ao final, conseguir ganhar boas comissões no setor. O filho de Trump também deve entrar para o negócio”, relatou esse interlocutor. De acordo com a fonte, Eduardo pensa em se mudar para os EUA no futuro, de onde comandaria suas operações no negócio de armamentos.