04/11/2022 - 9:30
Novo governo
A mensagem de pacificação e valorização das diferenças veio no discurso da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva: “É preciso reconstruir a própria alma deste País. Recuperar a generosidade, a solidariedade, o respeito às diferenças e o amor ao próximo”. São palavras antagônicas às reiteradas expressões ofensivas e cruéis contra negros, mulheres, população LGBTQIA+ e povos originários ditas por Jair Bolsonaro e seus aliados, marcando o discurso recente do governo às minorias com o carimbo do retrocesso e da truculência. Os ataques e o descaso datam de antes mesmo da posse do presidente. Em 2018, Bolsonaro defendeu em um culto evangélico na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais, que “as leis existem, no meu entender, para proteger as maiorias. As minorias têm que se adequar…”. A Constituição Federal de 1988, no artigo 5º, estabelece a igualdade perante a lei sem distinções.

A cartunista Laerte Coutinho, admiradora de Lula e não filiada a nenhum partido, acredita que os desafios serão grandiosos. “Os governos que de alguma forma se conectaram com essa fração progressista da sociedade brasileira sempre foram o melhor celeiro de ideias, propostas e de iniciativas, não só para a população LGBTQIA+, que hoje já nem é mais a minoria”. Em 2021, quando publicou persistentes cartuns na primeira página da Folha de S.Paulo, tendo o bolsonarismo como alvo constante, Laerte recebeu o tradicional Prêmio Juca Pato, endereçado ao intelectual do ano. No espectro do governo Bolsonaro, o troféu ganha um caráter de resistência. Em reflexão ao novo momento político, Laerte ressalta a força que surge em outras lideranças. “Nós não estamos só falando do PT, mas de todo um pilar que conseguiu derrotar o bolsonarismo e é portador de boas notícias, como o Eduardo Leite. Ele tem sido apontado como alguém da oposição, mas eu não acho que vai haver tensão entre o governo do Rio Grande do Sul e o governo federal”.

Para o cantor e compositor paraibano Chico César, a eleição de Lula trouxe entusiasmo. “Já saio de um estado de defesa para celebração. Acho que a cultura será respeitada e receberá estímulos para além das artes”. Quanto à igualdade racial, o músico destaca a criação do Ministério dos Povos Originários, anunciado pelo petista, e a presença de lideranças variadas entre seus apoiadores. “Quando olhamos para o entorno de Lula, temos Benedita da Silva, mulheres antagônicas como Marina Silva e Simone Tebet, indígenas, e vemos o Brasil diverso representado”, evidencia o artista, que já ocupou a Secretaria de Cultura da Paraíba e tem seu nome incluído nas especulações que estão pipocando na imprensa sobre o futuro titular da pasta da Cultura, que sob Lula volta à condição de ministério.
Quanto aos povos originários, a cantora e arte-educadora Kaê Guajajara é contundente ao refletir sobre Lula. “Eu não acredito que estamos falando de representação, de fato. Os outros governos do PT não tiveram uma mudança muito grande para os indígenas, mas também não foi um desgoverno como esse do Bolsonaro”. A questão da demarcação de terras, saúde e educação indígena despontam como temas. “Se a gente tem um governo que demarca, os povos terão direito a saúde sem precisar se ausentar para tratamentos, ter educação indígena, sua cultura incentivada. Algo que diga, sem mentiras, que estamos vivos”.
A atriz e escritora Elisa Lucinda, nome presente na articulação dee inúmeras movimentações de resistência de minorias, diz estar aliviada e destaca o período Bolsonaro como um pesadelo. “Estamos saindo da ignorância e do atraso. Quem votou no Lula votou contra a fome, a favor dos negros, dos LGBTQIA+, dos nordestinos, da Amazônia. Foi um voto amplo e ninguém votou só por si, votou pelo País”. Ela reconhece os desafios na reconstrução do Brasil. “O País foi esfacelado na sua transparência, nos equipamentos de proteção climática e ambiental, desarticulado nas ciências e nas universidades. A gente está com saudade de ter presidente”.
