A estátua do Cristo Redentor ainda nem existia quando uma emissora instalada no morro do Corcovado, no Rio de Janeiro, fez a primeira transmissão de rádio da história do País. Foi um pronunciamento do presidente Epitácio Pessoa, a 7 de setembro de 1922, parte dos festejos do centenário da Independência. Ao seu redor, personalidades como o príncipe Albert, da Bélgica, ouviam o discurso pelos alto-falantes instalados no local. Na capital carioca e em São Paulo, parte da população acompanhava o evento por meio de 80 receptores importados especialmente para a data, instalados em praças públicas. Após a fala, as caixas ressoaram a ópera O Guarani, de Carlos Gomes, para a perplexidade dos presentes.

A primeira emissora brasileira, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, foi criada no ano seguinte pelo médico e antropólogo Edgard Roquette-Pinto. Instalada na Academia de Ciências, a iniciativa contou com o caráter educativo em sua programação inicial, com música de qualidade e leitura de textos de grandes autores. Esse conteúdo logo passou a dividir o espaço com a divulgação de notícias – o Jornal da Manhã foi a experiência inaugural nesse sentido.

Repórter Esso – História O Repórter Esso, um dos noticiários mais ouvidos, informou o fim da Segunda Guerra (Crédito:Acervo Rádio Nacional)

Na década de 1930 a tecnologia espalhou-se pelo País, levando à criação de emissoras em Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul. Com a disseminação cada vez maior dos aparelhos, teve início a “Era de Ouro”, marcada pelo sucesso de intérpretes como Ary Barroso, Lamartine Babo, Orlando Silva, Marlene e Emilinha Borba, entre tantos outros. Com a popularização desses artistas surgiram os fãs-clubes, que atribuíam apelidos a seus ídolos: Carmem Miranda passou a ser conhecida como “A Pequena Notável”; Francisco Alves era “O Rei da Voz”; Marlene, “A Favorita da Marinha”. Com um alcance ampliado, surgiu também a função do locutor. O mais famoso da época foi César Ladeira, que, em plena Revolução de 1932, dirigia-se diariamente ao chefe do governo provisório, Getúlio Vargas: “Que renucie o ditador”, era seu bordão. Vargas, que logo percebeu o poder desse meio de comunicação, agiu na direção contrária: estatizou em 1940 a Rádio Nacional, então líder de audiência, e passou a utilizá-la como ferramenta política. Um dos programas favoritos do líder gaúcho – e de toda a população – era o Repórter Esso, patrocinado pela petrolífera norte-americana. Além do conteúdo vinculado aos interesses políticos dos EUA, o noticiário estabeleceu um novo padrão de qualidade e ficou no ar durante tempo recorde, entre 1941 e 1968.

GETÚLIO VARGAS – Rádio Nacional O presidente Getúlio Vargas estatiza a emissora mais popular do País e passa a usá-la politicamente

As transmissões esportivas e as radionovelas foram outros fenômenos da “Era de Ouro”. Com a instalação dos equipamentos nas casas dos ouvintes, criou-se uma estratégia conhecida como “grade”, com foco no público masculino (jogos de futebol, à noite) e feminino (radionovelas, à tarde). São dessa época títulos muito populares, entre eles O Coração Partido, Amor Proibido e O Direito de Nascer. Logo o formato seria adaptado para a TV, que chegava ao Brasil em 1950. Apesar de muitos acreditarem que os telespectadores abandonariam seus aparelhos de rádio, o que houve foi o contrário: uma convivência complementar e harmoniosa que dura até os dias de hoje – e que resiste bravamente até mesmo à revolução digital, com os podcasts e as novas plataformas de streaming.