23/09/2022 - 9:30
Cientista político, empreendedor, fundador do Centro de Lideranças Públicas (CLP), marido da Ana Maria, pai de quatro filhos, é um otimista. É assim que Luiz Felipe D’Avila se define. Ele é de uma família com tradição na política nacional. É neto do deputado federal João Pacheco e Chaves (MDB-SP), já falecido, que presidiu o extinto Instituto Brasileiro do Café (IBC) e foi secretário da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Dono do maior patrimônio declarado na Justiça Eleitoral (R$ 24,6 milhões), o candidato a presidente da República pelo partido Novo tenta uma missão praticamente impossível: romper a bolha da polarização política travada nesta eleição entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL).
Com raízes do pensamento liberal, o partido Novo, do qual D’Avila é filiado, nasceu com a proposta de ser uma opção fora do convencional, mas se perdeu em si mesmo com divergências internas e não deslanchou.
O programa de campanha de D’Ávila tem clara inspiração empresarial, com cada uma das dez prioridades de governo sintetizadas por uma “visão”. O lema é ‘Mais oportunidades, menos privilégios’ e, ao longo do texto, defende uma sociedade que “valorize o sucesso e não o vitimismo”. O “grande sonho” do candidato é chegar a um País onde “todos possam viver com igualdade de oportunidades”.
Algumas das críticas repetidas pelo candidato em todos estão em todos os lugares no programa de governo: os parlamentares brasileiros seriam os mais caros do mundo e o fundo partidário, que segundo ele, em menos de 50 dias de campanha já se gastou R$ 5 bilhões de recursos públicos em santinhos, jatinhos, propagandas mentirosas e disseminação de desinformação é, uma excrescência.
O Novo, que este ano disputa as eleições presidenciais pela segunda vez, gosta de se definir não como uma legenda de direita, mas como um partido “liberal”, que prega a menor participação do Estado na economia e também na esfera social. Ao mesmo tempo em que defendem desregulamentação do mercado, acreditam que os indivíduos devem ser livres para optar, sem interferência do Estado, sobre as mais diversas questões. As bandeiras mais levantadas nessa campanha, principalmente por conta dos principais adversários, são o porte de armas, a orientação sexual, o uso de drogas, a liberdade religiosa e o fim de gestações indesejadas.
Oscilando na faixa entre zero e 2% das intenções de votos nas pesquisas, poderia ter sido o nome da tão desejada terceira via, o que não aconteceu; o candidato atribui o fracasso do movimento às pretensões fisiológicas e personalistas de poder, que impediram a união dos candidatos em torno de um projeto para o Brasil. Aos assuntos mais desconfortáveis, como a ligação de alguns parlamentares da bancada de seu partido com o bolsonarismo, ele é categórico: “Nosso lado é em defesa do pagador de impostos, não de A ou B. Essa afirmação me parece equivocada ou simplista demais”.
Liberal, mas nem tanto…
Em sua casa no Jardim Europa, área nobre de São Paulo, D’Avila falou sobre o que o levou a disputar a Presidência e qual o futuro que sonha como ideal para a população brasileira
O partido Novo diz que não faz uso do fundão, como faz para manter as campanhas?
Financiamos nossas campanhas com doações privadas. Tem muita gente que acredita nas nossas propostas e são parte desse processo como doadores. Eles confiam. Como deveriam fazer todos os partidos. Dinheiro público deve ser devolvido à população em forma de serviço público, não em santinho, propagandas milionárias ou jatinhos.
Hoje, para cargo majoritário, vocês têm apenas o Zema, em Minas Gerais. Como vê o futuro do partido?
Vamos crescer, dobrar nossa bancada. A eleição de Zema, em Minas Gerais, e sua reeleição são a prova de que é possível fazer política com honestidade, responsabilidade fiscal e entrega de serviços públicos. Estamos no caminho certo. Não é o mais curto, nem o mais fácil. Mas ser coerente, no cenário político brasileiro, exige coragem. Temos de sobra. E vamos, a cada nova eleição, ampliar nossos espaços para levar à população a certeza de que a política pode ser diferente.
O Novo se apresenta como um partido liberal. Vocês pretendem, caso eleito, privatizar as estatais, como a Petrobras?
Somos liberais. Aliás, somos o único partido realmente liberal no Brasil. E nós vamos, sim, fazer privatizações, incluindo a Petrobras. Tem um dado que talvez seja desconhecido da imensa maioria dos brasileiros: de 2012 a 2021, as estatais brasileiras deram um prejuízo de R$ 160 bilhões aos cofres públicos. Ou seja, R$ 160 bilhões deixaram de ser investidos em educação, saúde, combate à fome e foram tapar os rombos das empresas que são verdadeiros cabides de emprego. Privatizar é abrir a concorrência e todos nós sabemos que a concorrência faz bem. O monopólio é uma verdadeira tragédia.
Por que a terceira via não engrenou para a eleição presidencial?
A terceira via não existiu. Eu fui uma das pessoas que ajudou a criar um movimento que tinha muitos nomes. Mas as discussões tomaram um rumo em torno de alianças nos estados, principalmente, e não em torno de propostas para o País. Houve uma incapacidade de os partidos entenderem que o cenário deveria discutir os problemas do país e não os palanques regionais. Isso frustrou não só a viabilização de uma candidatura unificada para enfrentar a polarização, como aniquilou aqueles que apresentaram seus nomes.
Como acabar com essa polarização política? Acredita que ao acabar esse pleito, podemos ter uma trégua?
A polarização não é de agora. É de muito tempo atrás. E quem a instituiu foi o PT. Eles criaram a narrativa do “nós” e “eles”. Primeiro contra o PSDB.Agora, contra Bolsonaro. Deixam de lado os interesses da população em nome de um projeto de poder. Isso é inaceitável em uma democracia. Aliás, o PT é como uma saúva: aos poucos foi aparelhando tudo, foi corroendo por dentro as instituições, foi aperfeiçoando os esquemas de corrupção… Tudo isso enfraquece a democracia de uma forma velada, em que eles mentem para a população. É um cenário difícil para o País, para a democracia e para o futuro das próximas gerações.
Entre Lula e Bolsonaro, em um segundo turno, para quem vai seu voto?
Segundo turno a gente discute no segundo turno.