O vermelho não deve ser a cor preponderante na equipe ministerial do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que teve que buscar um amplo leque de alianças para conseguir derrotar o presidente Jair Bolsonaro (PL) numa eleição plebiscitária. Mas o partido do próximo mandatário terá papel central nas articulações com as outras siglas que contribuíram para a vitória de Lula. Caberá à presidente da legenda, Gleisi Hoffmann, dividir o espaço entre o PT e os aliados no novo governo.

Superada a primeira grande barreira, a eleição, Lula e seu entorno têm consciência de que, para conseguir governar e fazer avançar projetos caros ao governo, terão de ampliar ainda mais sua base de apoio. Juntos, os dez partidos da coligação de Lula elegeram 122 deputados federais e 12 senadores. Gleisi já está conversando com partidos como o União Brasil, de Luciano Bivar, que em 2023 terá 59 representantes na Câmara, e o PSD, de Gilberto Kassab, que elegeu 42 parlamentares. Nas negociações, vem oferecendo cargos inicialmente na equipe de transição. Quanto ao MDB de Simone Tebet, também com 42 deputados eleitos, o presidente Baleia Rossi acenou com a possibilidade de se aliar aos petistas. É uma corrida contra o tempo: com uma bancada de apenas 122 deputados na Câmara, sozinho o próximo governo não conseguiria nem mesmo aprovar projetos que exijam maioria simples.

Entre as pautas caras ao petismo está o combate à fome e à pobreza, que prevê a continuidade, em 2023, do pagamento do Auxílio-Brasil de R$ 600. O PT trabalha contra o tempo para garantir a manutenção do programa, já que, para isso, é preciso que o Congresso aprove ainda neste ano a previsão dessa despesa e de outras. Para a missão de negociar com o Parlamento o projeto de Lei Orçamentária Anual (LOA) para 2023, foi escalado o petista Wellington Dias, senador eleito pelo Piauí. Ele já está discutindo o tema com o relator do projeto, senador Marcelo Castro (MDB-PI). Uma nova proposta de LOA está sendo elaborada pela equipe de transição, já que a avaliação é de que a atual, enviada por Bolsonaro, não contempla a execução dos planos do novo governo, em especial em relação aos programas sociais.

SOB NOVA ADMINISTRAÇÃO Lula, em meio a petistas e novos aliados: composição heterogênea para conseguir votar e aprovar medidas essenciais (Crédito:Ricardo Stuckert )

Educação na mira

Durante os anos em que ficou no poder, o PT também demonstrou especial preocupação com a educação. Ainda não há definição sobre o próximo titular da pasta. Quem recebeu a tarefa de definir os nomes da equipe que vai cuidar da área foi outro petista, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, que, aliás, também é um dos nomes cotados para a pasta. Haddad, que é professor universitário, foi ministro da Educação de 2005 a 2012, nos governos Lula e Dilma, e foi responsável por importantes avanços na área. Elaborou o Programa Universidade para Todos (ProUni), programa de concessão de bolsas em universidades privadas para estudantes de baixa renda, e reformulou o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Embora seja o responsável pela escalação do grupo da área de educação na equipe de transição, Haddad descarta o papel de coordenador da equipe.

Outro petista em posição estratégica é o economista e professor universitário Aloizio Mercadante, ex-ministro do governo de Dilma Roussef e um dos fundadores do PT. Ele ressurge na linha de frente do petismo na condição de coordenador técnico da equipe de transição de Lula. Durante o período em que Dilma esteve à frente da presidência, Mercadante ocupou três das principais pastas do primeiro escalão: os ministérios da Educação e da Ciência, Tecnologia e Inovação. Também foi ministro-chefe da Casa Civil. Era um dos principais conselheiros da então presidente, e foi responsabilizado por alguns colegas do partido pelos erros de articulação política que levaram ao seu impeachment, em 2016. Recentemente conseguiu se reabilitar internamente: participou da elaboração do plano de governo de Lula para a disputa eleitoral e o acompanhou em viagens de campanha. Agora, está entre os cotados para voos mais altos no futuro governo.