Está em elaboração no Ministério da Fazenda um pacote de medidas que tem como objetivo impulsionar a economia brasileira ao mesmo tempo em que promove a sustentabilidade. Trata-se do Plano de Transição Ecológica, que deve ser lançado pelo governo já no próximo mês. Antes mesmo da posse, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já vinha trabalhando para devolver ao Brasil o protagonismo mundial nas discussões sobre mudanças climáticas, razão pela qual nomeou Marina Silva, mundialmente respeitada na área, para o Ministério do Meio Ambiente. Agora, vem da pasta comandada por Fernando Haddad a iniciativa de demonstrar que é possível – e economicamente bastante vantajoso – aliar o desenvolvimento à pauta ambiental. Entre as medidas que compõem os planos do governo estão o incentivo ao mercado de créditos de carbono, o estímulo à produção e à utilização de painéis solares e o aumento da participação de produtos da floresta nas exportações brasileiras. Apenas o mercado de créditos de carbono pode render ao Brasil até US$ 30 milhões de dólares por ano, estima o climatologista Carlos Nobre, referência mundial nas questões de mudanças climáticas e aquecimento global. “O governo acerta com esse pacote verde para estimular a economia”, diz o pesquisador. “A ideia faz todo sentido, tanto do ponto de vista econômico quanto do ambiental”.

Nobre explica que o Brasil tem um gigantesco potencial no quesito restauração florestal: “Se a gente recuperar grandes áreas da Amazônia, do Cerrado e da Mata Atlântica, vamos garantir mais de um milhão de toneladas de remoção do CO2 da atmosfera, o que poderá trazer para o País de vinte a trinta bilhões de dólares por ano”, destaca. Nobre esclarece, no entanto, que por ora trata-se apenas de uma possibilidade, que ainda depende de como o governo brasileiro vai conduzir a questão, e da consolidação do mercado global de créditos de carbono. Quanto a estímulos para a produção e a utilização de painéis solares, a quase totalidade desse tipo de equipamento é hoje produzida na China. Passar a fabricar as placas em território brasileiro, alternativamente à importação, estaria em linha com a defesa que tanto Lula quanto seu vice, Geraldo Alckmin, vêm fazendo da reindustrialização do País. No âmbito teórico, falar em reindustrialização do Brasil mostra o quanto o País está tecnologicamente defasado diante da contemporaneidade e da modernidade de algumas nações, mas é o que Lula e Alckmin, aos quais não cabe a culpa, podem fazer. Além disso, a energia solar é mais barata – e limpa. “Ela é renovável, emite muito pouco carbono (e só na construção dos painéis) e é a mais barata, ao lado da eólica”, enumera o climatologista. “Com o incentivo ao uso dessa tecnologia, cria-se mercado para o produto a ser produzido no Brasil, ao mesmo tempo em que os setores industrial e agrícola, além das pessoas em suas casas, gastarão menos com energia”.

ECONÔMICO Painel solar para moradores da região amazônica: energia limpa e mais barata (Crédito:Lalo de Almeida)

O aumento da participação de produtos da floresta nas exportações também pode ser bastante positivo para a economia brasileira. O açaí, por exemplo, já traz por ano mais de US$ 1 bilhão para a economia da Amazônia, destaca Nobre. O Brasil também exporta castanhas e alguns outros produtos, e tem potencial para ampliar as vendas. O governo poderia incentivar também o aumento da produção de cacau na região amazônica. “Não produzimos cacau suficiente para a produção nacional de chocolate, e hoje a gente tem que importar”, diz o cientista. Ele lembra que a Floresta Amazônica guarda a maior biodiversidade do planeta, e que o Cerrado também possui a maior biodiversidade entre as savanas tropicais no mundo — o que significa que é grande a possibilidade de que esses biomas, de forma sustentável, ofereçam cada vez mais produtos nativos de interesse comercial. “Essa nova economia, que a gente chama de ‘floresta em pé’, ou ‘bioma em pé’, tem enorme potencial”, explica. Se o Brasil conseguir aumentar em muito o mercado desses produtos, em menos de vinte anos eles podem superar a pecuária. Mas é preciso industrializar também, beneficiar; não é só vender o produto primário.

EXPORTAÇÃO O açaí traz por ano mais de US$ 1 bilhão para a economia da Amazônia (Crédito:Divulgação)

A perspectiva é de avanço, portanto, embora ainda não haja detalhes de como se pretende alcançar esse almejado desenvolvimento sustentável. Espera-se que haja pelo caminho do governo Lula menos dificuldades do que os aliados do presidente vêm enfrentando para consolidar uma base no Congresso. Hoje, o Palácio do Planalto tem despendido quase a totalidade da sua energia em busca do apoio dos parlamentares para tentar garantir a aprovação de projetos igualmente urgentes, como é o caso do novo arcabouço fiscal.