06/03/2020 - 9:30
Padre Antônio Viera, um dos maiores pensadores universais, nos ensinou que o pecado da omissão é muitas vezes mais grave que o pecado da ação. Historicamente, sempre se soube que nessa heresia incorreu o papa Pio XII, ao longo da Segunda Guerra Mundial, em relação ao regime nazista e genocida liderado pelo ditador da Alemanha Adolf Hitler. Pio XII, como representante máximo da comunidade católica, omitiu-se, e, pior que isso, em determinados momentos costurou acordos com os nazistas. Agora, ficará comprovado, com a abertura dos arquivos do Vaticano, até que ponto houve colaboração.
O papado do romano Eugenio Maria Giuseppe Giovanni Pacelli, Pio XII, entre os anos 1939 e 1958, foi o segundo pontificado mais longevo da Igreja Católica, inferior somente ao período de João Paulo II (1978 a 2005). Os documentos, guardados sigilosamente há mais de 50 anos, englobam mais de 20 mil itens, entre mensagens, telegramas e correspondência diplomática da Secretaria de Estado do Vaticano, responsável pelas relações internacionais da instituição. Fazem parte desse conteúdo os documentos da época da guerra e textos escritos por padres inspirados pelo comunismo, que foram censurados.
A loucura nazista
O extermínio de seis milhões de judeus no Holocausto é o principal ponto que compromete o posicionamento do pontífice. Para Carlos Reiss, coordenador-geral do Museu do Holocausto de Curitiba, as principais perguntas que podem ser respondidas com a abertura desses arquivos são: por que o papa Pio XII não se pronunciou de forma aberta e veemente contra o genocídio? Num famoso pronunciamento, o líder católico afirmou que centenas de pessoas estariam marcadas para morrer, mas sem pronunciar as palavras “judeu” e “nazista” naquele momento. A segunda questão levantada por Reiss é por que a Igreja Católica não mostrou, de forma clara, quantas vidas foram salvas com a ajuda do Vaticano? “A divulgação desses documentos é fundamental”, diz ele. A Santa Sé não tem prazo para conclusão dos trabalhos, tudo depende da determinação do papa Francisco. Ele já afirmou que “a Igreja não deve ter medo da História”. Assim, mesmo que demore para se ter ciência completa sobre o significado desses registros, a comunidade católica finalmente saberá o que de fato ocorreu nos bastidores do Vaticano.
A posição estritamente diplomática de Pio XII propiciou um acordo entre o Terceiro Reich e o Vaticano em 1933. Por isso, há católicos que defendem a política seguida pelo papa nos difíceis tempos da guerra, alegando que dessa forma ele salvou a vida de padres e freiras de origem judaica. Saber de fato o que aconteceu por meio de documentação oficial vai colocar um ponto final nas dúvidas que papas anteriores a Francisco não se preocuparam em dirimir.