28/04/2023 - 9:30
Não é sempre que um escritor brasileiro alcança o status de celebridade, algo mais comum entre cantores sertanejos e jogadores de futebol. Itamar Vieira Junior chegou a esse patamar graças ao êxito estrondoso de Torto Arado, seu romance de estreia. Desde o lançamento, já ultrapassou as 700 mil cópias vendidas, ganhou tradução em mais de vinte idiomas e vai virar série no streaming da HBO Max. O segundo tomo desse fenômeno editorial chega finalmente às livrarias: Salvar o Fogo (Todavia) retoma temas presentes na obra anterior – fica faltando ainda a terceira parte da obra, que será uma trilogia – sobre o cotidiano de quem vive da terra e luta por ela. Vieira Junior tem experiência no assunto. É geógrafo do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, o Incra, e incorporou muito do que viu às suas narrativas. Se os protagonistas de Torto Arado viviam em regime análogo à escravidão na cidade de Água Negra, os novos personagens habitam a aldeia de Tapera do Paraguaçu, no Recôncavo Baiano, e são obrigados a pagar impostos a monges de um mosteiro. Ao combinar elementos da realidade à ficção, o autor dialoga diretamente com o leitor – e essa é a chave de seu merecido sucesso. Ele já está garantido: em sistema de pré-venda, Salvar o Fogo chegou a 37 mil cópias antes mesmo de desembarcar nas livrarias.
Mulheres fortes e reais
O jovem Moisés Silva é um dos narradores em Salvar o Fogo, mas as protagonistas são todas femininas. Luzia e Maria Cabocla, suas irmãs, mantêm a fé nas crenças de seus antepassados indígenas e africanos, apesar da opressão da Igreja Católica na região. Aos olhos da população local, elas têm poderes sobrenaturais. Para o autor, são apenas mulheres fortes: Vieira Junior se insipirou em familiares e profissionais com quem conviveu em suas andanças pelo interior baiano.