14/10/2022 - 9:30
Se Xi Jinping está de olho no mundo, o mundo também está de olho em Xi Jinping: aos 69 anos, será reconhecido oficialmente como um líder à altura de Mao Tsé-Tung, fundador do regime, e Deng Xiaoping, responsável por levar a China ao posto de segunda economia do planeta, nos calcanhares dos EUA. E será no 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), que começa no domingo, 16, durando uma semana. O roteiro a ser apresentado em Pequim, previamente discutido e decidido, inclui a aprovação de um inédito terceiro mandato de Xi Jinping, que ele mesmo já armou para ser vitalício. Como uma reencarnação de Mao.
Xi Jinping chegou ao Politburo em 2007 e em 2012 foi escolhido como presidente do país, secretário-geral do PCC e comandante das Forças Armadas. Consolidou seu poder nos bastidores, neutralizando opositores. E, como em 2018 eliminou o limite do mandato presidencial, pode se tornar um virtual imperador no controle de 1,4 bilhão de pessoas que giram uma economia de US$ 17,7 trilhões. O 20º Congresso do PCC é “um grande teatro, com todos os passos já decididos, para mostrar que o partido está coeso e tem objetivos claros para os próximos anos”, como observa Moisés de Souza, professor de estudos de Ásia-Pacífico na Universidade Central de Lancashire, na Inglaterra.

A pauta deve se ater a questões domésticas, sobretudo sobre a economia, porque a prioridade do país é garantir crescimento que dê conta dos milhões de chineses que chegam ao mercado de trabalho todos os anos. “Com isso, o partido reforça sua legitimidade e consegue sobreviver. Essa é a lógica”, diz o professor. E o destaque será a dimensão alcançada por Xi dentro do partido e do país, com ideias incorporadas às de Mao e Deng na cartilha do PCC. Como a assembleia será a primeira depois do início da pandemia e da invasão da Ucrânia, da guerra comercial com os EUA e das tensões com Taiwan aumentadas pela visita da deputada americana Nancy Pelosi, espera-se algo como um pronunciamento, mas pouco além disso, com relação à conjuntura internacional.
Margem de manobra
Nos últimos cinco anos a economia chinesa desacelerou por causa dos lockdowns causados pela estratégia de Covid Zero, que fechou fábricas e manteve cargas e navios parados em portos. Entre 2013-2018, a China contribuiu com 28% do crescimento do PIB mundial. A interrupção de cadeias de suprimentos internacionais fez a previsão de crescimento global cair para 2,9% em 2022, bem abaixo dos 5,7% previstos.
A meta do PIB chinês foi reduzida de 5,5% para 2,5%. Xi Jinping quer a China focada em autossuficiência, principalmente tecnológica, para não depender do Ocidente com relação a componentes eletrônicos sensíveis e estratégicos. E seguirá estreitando margens de crédito para empresas privadas (se em 2013 tomavam 57% das concessões, a tendência se inverteu já em 2016, quando estatais passaram a receber 83%).

“Ele diz que tem de ser mais marxista e menos capitalista”, diz Moisés de Souza. “Daí a maior intervenção nas grandes e médias empresas para que implantem medidas que reduzam desigualdades.”
Internacionalmente, Taiwan “é a prioridade permanente na agenda de qualquer presidente chinês”, argumenta o professor. “É a linha vermelha deles. Se ultrapassada, vão responder.
1,4 BILHÃO é a população da China, proibição de manifestações contrárias ao governo
O acirramento vem desde 2012, quando Tsai Ing-Wen foi eleita presidente de Taiwan por um partido pró-independência. Quanto mais os EUA intervêm, mais a China reage. A consolidação do crescimento econômico chinês tem data marcada: 2049. E eles querem comemorar os 100 anos do PCC nessa data com Taiwan incorporada.”
Sobre a Rússia, o professor diz que o gás interessa porque todo o óleo que sai do Oriente Médio passa pelo mar do sul da China, onde estão Japão, Coreia do Sul e Taiwan. “Se os EUA bloqueiam a região, sufocam a economia chinesa. A China busca alternativas pela Ásia Central, chegando até a Rússia”, observa. “Mas, ao contrário dos EUA, a China não trabalha com alianças que a atrelem a conflitos. É pontual, age com movimentos graduais e ajustáveis, deixando margem de manobra e também uma porta de saída aberta, caso o cenário não se configure como o pretendido.” Ou seja, à imagem de Xi Jinping.