Em termos de proteção, Ricardo Salles é ótimo: não com o meio ambiente ao qual ele tem os deveres ético e de ofício de proteger, exatamente pelo ministério que ocupa, mas, isso sim, quando está em questão a proteção a si próprio — e aí vale-se até de supostos negócios nebulosos. O ministro se diz vítima de ameaças físicas, embora não explicite os autores, e esse é um fato que se estranha — até porque, no quesito de se tentar intimidar os outros por meio do terror, isso é praticado justamente no governo do qual participa. Falando, então, em ameças, ele assinou, em um pedido de urgência, uma licitação de R$ 1 milhão para a locação de carros blindados. Se já não bastasse o valor exorbitante para um problema com poucas respostas, a SUV encomendada é um kit completo de ostentação e luxo: tração nas quatro rodas, câmbio automático, diesel, bancos de couro e central multimídia completa. Essas são as exigências de segurança do ministro Ricardo Salles. Tudo para um episódio sem grandes explicações. A resposta do Ministério do Meio Ambiente é categórica: “ao desempenhar suas atividades laborais, o senhor ministro teve sua integridade física ameaçada, bem como a dos integrantes de sua comitiva”. Nenhum detalhe a mais. O que se sabe, na teoria, é que os episódios citados de ameaça à vida aconteceram no dia 27 de fevereiro, na cidade baiana de Porto Seguro, e no dia 28 de abril, em Brasília. Não será surpresa alguma se, em breve, o governo Bolsonaro solucionar o caso, responsabilizando indígenas pela criação do eventual clima de terror contra o ministro.

Seguro, muito seguro

SUV com tração nas quatro rodas, câmbio automático, diesel, bancos de couro e central multimídia completa. Essas são as exigências do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, para a sua segurança.

PANDEMIA
O coronavírus não chega lá

Divulgação

Um único continente está livre do coronavírus. E nessa região vivem 16 brasileiros. Eles são militares da Marinha (quinze homens e uma mulher) e o continente em questão é a Antártida. Foram selecionados para ocuparem a Nova Estação Comandante Ferraz, em uma missão que se alongará por 13 meses. “É uma mistura de sentimentos. Fico feliz por mim e pela minha equipe porque estamos livres da Covid-19”, diz Luciano de Assis, chefe da estação. “Mas também estou triste porque nossos familiares estão em contato com a doença que não deixa de avançar no Brasil”.
Esses miliares estão completamente isolados do restante do mundo.

FRANÇA
Sinto muito vírus, “teremos sempre Paris”

BERTRAND GUAY

Ao que tudo indica os franceses esqueceram, ao menos por enquanto, que o coronavírus já se manifestou em outros países na chamada “segunda onda”. Na semana passada, restaurantes, bares e cafés reabriam para os clientes. E como reabriram! Os consumidores só podem ficar nas calçadas, mas, claro, isso não impediu que o desejo quase inconsequente por uma bebida e uma conversa se transformasse em um grande tumulto. As calçadas ficaram inundadas por um mar de pessoas. E enquanto bebia-se e ria-se e abraçava-se e beijava-se, a capital de Paris continuou sendo a cidade com maior circulação do vírus em todo o país. O que acontece em suas avenidas é uma tentativa de a vida voltar ao normal, como se fosse possível seguir sem a lembrança das 29 mil pessoas que morreram só na França. A exacerbada necessidade da retomada do convívio social voltar o quanto antes, é só mais um indício da necessidade humana: não há como viver em reclusão eterna. Só que nesse momento a angústia pode gerar uma nova onda da pandemia e de mortes, afinal, qual será o novo estado normal do mundo?

MEDICINA
Autorizado aumento no preço de remédios

O governo federal autorizou reajuste nos preços de remédios em todo o País. Os valores estavam congelados há dois meses, mas na semana passada a suspensão foi cancelada. A medida é uma decisão da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), que, consequentemente, libera o aumento no preço dos produtos: o salto pode
ser de até 5,2%. “O efeito econômico do coronavírus reflete na diminuição do poder aquisitivo dos consumidores e nos planos de saúde”, criticou o senador Confúcio Moura. O aumento, completamente fora de hora nesse momento
de luta contra a pandemia, já está valendo.

LIVROS
O Bruxo, do Cosme Velho aos EUA

Uma das principais obras do principal escritor brasileiro, Machado de Assis, chega aos EUA de maneira esplendorosa — e é assim mesmo que merece ser. Na terça-feira 2 os americanos receberam a tradução do romance de 1881, “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. Os exemplares esgotaram-se em menos de 24 horas. Isso mostra a permanência da genialidade do Bruxo do Cosme Velho, que passou a ser conhecido pelos americanos após os elogios de Harold Bloom, um dos maiores críticos literários da humanidade, recém-falecido: “Machado de Assis é um milagre”. A chegada de Machado aos EUA não é pontual. Ela inaugura uma série de traduções e publicações pelo selo Penguin Classics. Em Londres, o escritor já é referência literária, sobretudo a partir dos estudos do crítico John Gledson.

Memória
Morre Nicolau dos Santos, o Lalau

Lula Marques

O juiz Nicolau dos Santos Neto, mais conhecido como Lalau, morreu aos 91 anos após ser diagnosticado com o coronavírus, que agravou-se após atingir os seus pulmões e provocar pneumonia. Durante o biênio de 1990 e 1992, ele presidiu o Fórum Trabalhista de São Paulo. Anos mais tarde, acabou sendo condenado por desvios de dinheiro e corrupção nas obras do tribunal, ao qual dirigiu até 1998. É dessa época que vem o apelido Lalau, que virou parte de sua própria identidade.