Em expansão no Brasil, a energia eólica onshore, que produz energia em parques eólicos, já trouxe investimentos bilionários em projetos nos estados do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte, onde há grande volume de vento o ano inteiro. No entanto, existe uma outra fonte de energia que também tem o vento como principal condutor, mas não em terra, e sim em alto mar, a energia eólica offshore. É uma fronteira nova e com grande potencial para ampliar a produção de energia limpa no País.

Regulamentada no ano passado, a energia eólica offshore pode ampliar uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo, que atinge hoje 85% de fontes renováveis – no restante do mundo, essa média é de 28%. Devido às condições territoriais e climáticas brasileiras — 3,6 milhões de km² de área, 11 mil quilômetros de litoral e ausência de tempestades ou furacões —, as eólicas offshore representam um campo vasto de possíveis investimentos.

Dentre as principais vantagens que justificam o estímulo aos empreendimentos offshore está a densidade energética dos projetos, quando comparados aos onshore, modelos já existentes no Brasil. Os parques eólicos offshore possuem quase sempre potência mais elevada do que os parques localizados em terra firme, em virtude do maior diâmetro das turbinas offshore e também pela qualidade dos ventos marítimos, que normalmente são mais fortes, contínuos, com menos turbulência e maior constância em relação aos terrestres.

“O que a gente tem no Brasil nas eólicas onshore já é algo muito maior se comparado à geração de outros países do mundo. Nós temos aqui regiões com capacidade de geração acima de 40%, enquanto em outros países a capacidade é de 20 a 30%. Então, quando tivermos as eólicas offshore, por estarem em alto mar e com menor impacto dos relevos, elas terão a capacidade muito além das que já existem na Europa”, avalia Felipe Gonçalves, superintendente de Pesquisa do FGV Energia.

Estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) constata essa superioridade na futura produção offshore no Brasil. A autarquia estima que o potencial técnico do País nesse segmento é de cerca de 700 GW – o equivalente a 50 usinas de Itaipu – em locais com profundidade de até 50 metros, o que representaria quatro vezes mais do que o atual parque gerador de energia do País, que produz atualmente 170 GW. Segundo o IBAMA, o Brasil já tem 70 projetos de regulamentação de complexos eólicos offshore, com a instalação das torres no mar. Eles estão na fase de licenciamento ambiental em oito estados, com maior ênfase no Rio Grande do Sul e no Ceará.

Para a presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Gannoum, essa quantidade de projetos em análise reflete o interesse e o potencial que o Brasil tem com os ventos marinhos. “Temos excelentes ventos tanto no Nordeste quanto no Sul. O Brasil tem uma enorme vantagem em relação ao resto do mundo quando o assunto é energia renovável”, afirma.

A expectativa é que os primeiros empreendimentos estejam concluídos e gerando energia em 2030. “Estamos prevendo que até 2030 os primeiros parques eólicos offshore comecem a funcionar, e depois a tendência é de redução de preços, na medida em que os aerogeradores se tornem mais populares”, afirma Gannoum. Outra vantagem dos parques de eólicos offshore é que além de poderem produzir um volume maior de energia, também trazem outros benefícios. “Com esses parques, a poluição sonora e visual não gera problemas, uma vez que esses efeitos ocorrem com certa distância da costa, não incomodando a vizinhança e não ocupando áreas que podem ser exploradas por agropecuária ou comunidades. Outras vantagens são a constância, uniformidade e velocidade dos ventos, o que favorece significativamente no aumento da geração em relação ao continente”, explica João Sanches, CEO da Trinity Energias Renováveis, consultoria especializada em projetos de geração e gestão de compra de grandes consumidores de energia.