29/10/2021 - 9:30
Há 1,96 bilhão de anos, a Lua registrava ação vulcânica nas placas abaixo da sua superfície. Hoje, as planícies onde ocorreu parte dessa atividade estão do lado mais escuro do satélite, como o Oceanus Procellarum (Oceano das Tormentas). A descoberta é uma das primeiras feitas pelos cientistas a partir das duas rochas recolhidas no astro pela sonda espacial chinesa Chang’e-5, que regressou à Terra em dezembro do ano passado. Antes, acreditava-se que a ebulição vulcânica local teria ocorrido há mais de 3 bilhões de anos. A descoberta é importante para determinar como se desenvolveu a atividade térmica na Lua, o que serve de modelo para os cientistas entenderem mais sobre os outros planetas sólidos, como Marte, e satélites como Europa e Ganimedes, de Júpiter.

“As rochas coletadas mostram que houve atividade vulcânica no lado oculto da Lua e que ela é mais recente do que se imaginava. A missão foi a primeira a trazer provas desse fenômeno”, explica Enos Picazzio, professor de Astronomia da USP. Ele esclarece que as missões Apollo, conduzidas pelos EUA nos anos 1960 e 1970, trouxeram rochas apenas do lado da Lua que está voltado para a Terra — os cientistas imaginavam como seria a geologia no outro lado, mas não tinham certeza. O mesmo ocorreu com as missões Luna da URSS. O professor Picazzio ressalta o sucesso da missão chinesa, pois na parte escura da Lua não existe comunicação com a Terra – os chineses controlaram toda a atividade da sonda por comandos programados, que funcionaram à perfeição.
Choque de planetas
Os cientistas acreditam que a Lua começou a se formar há 4,5 bilhões de anos, um pouco depois do nosso planeta. A teoria mais aceita atualmente é que a órbita terrestre se chocou com outro planeta menor, chamado Teia, e disso nasceu o satélite. As amostras recolhidas pela Chang’e-5, inclusive, tem grande semelhança com rochas vulcânicas das Ilhas Canárias, na Espanha, e do Havaí, nos EUA. Assim, confirmam que a Lua é formada pelo mesmo material do planeta que teria lhe dado origem, embora o satélite tenha pouco ferro. A expectativa dos cientistas é que novas missões pousem no lado oculto da Lua e tragam rochas de outras regiões, que ajudarão a esclarecer os mistérios da formação do satélite.