18/11/2022 - 9:30
Nesse ano em que celebramos o bicentenário da Independência, Dom Pedro I é sempre lembrado como protagonista do Grito do Ipiranga, momento histórico ocorrido a 7 de setembro de 1822 e imortalizado em famoso quadro de Pedro Américo. O que pouca gente sabe, porém, é que o imperador também era um talentoso músico e compositor erudito — tendo sido, inclusive, o autor do popular Hino da Independência. Essa e outras obras de sua autoria fazem parte de um álbum lançado pela Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, com regência de Fabio Michetti e vozes de Carla Cottini (soprano), Luisa Francesconi (mezzo-soprano), Cleyton Pulzi (tenor), Licio Bruno (baixo-barítono) e o coral Concentus Musicum. É um registro histórico por trazer a primeira gravação de um hino Te Deum, composto em 1820 e executado pela primeira vez no batismo de Dom João Carlos, primeiro filho varão de Pedro.
A formação musical do imperador começou ainda criança, uma vez que seu pai, o rei Dom João VI, era um grande apreciador das artes. Seu tutor foi Marcos Portugal (1762-1830), o mais famoso compositor português à época. Pedro I era um bom cantor, regia e tocava piano, flauta, clarineta, violino, baixo, trombone, harpa e violão. Mais tarde passou a ter aulas de composição com o pianista austríaco Sigismund von Neukomm (1778-1858), discípulo de Joseph Haydn, que chegou ao Rio de Janeiro em 1816.

Maçonaria
Embora o amor à música fosse comum entre os monarcas europeus, poucos se dedicaram à composição. A morte prematura, aos 35 anos, impediu Dom Pedro de escrever um número maior de obras. O Hino da Independência, com letra do jornalista Evaristo Ferreira da Veiga, é a mais conhecida. Uma característica interessante presente em Abertura e no Hino, é a opção pela tonalidade em mi bemol. A escolha vai além do gosto musical: permite que a partitura traga três notas em formato de triângulo, símbolo da maçonaria, organização a qual Dom Pedro pertencia.
A Abertura tem outra curiosidade: foi criada a partir de um pedido feito pelo maestro italiano Gioacchino Rossini, que se aproximou do imperador durante sua estadia em Paris, em 1832. Após executá-la ao vivo em 1866 em homenagem a Dom Pedro I, Rossini escreveu uma carta a seu filho, Dom Pedro II: “A obra teve grande sucesso. Como por um ato de discrição não nomeei o autor, os cumprimentos foram dados a mim, acreditando-se que a composição era minha. Espero que esse erro não desagrade ao filho do autor, que poderia inclusive bem se lembrar de me enviar um pouco do café tão celebre de Vosso País”.