30/07/2021 - 9:30

No momento em que a vacinação avança na Europa e nos Estados Unidos e a volta ao normal começa a acontecer, manifestações antivacina e contra as medidas restritivas para conter a pandemia de coronavírus têm se espalhado pelo mundo, renovando as piores preocupações com o futuro da doença e com a possibilidade de uma terceira onda. Em vários países, o ritmo de imunização desacelerou nas últimas semanas menos por falta de insumos, como acontece no Brasil, do que pela recusa de parte da população em se vacinar. Apesar do forte estímulo governamental, verifica-se um boicote em alguns grupos sociais, que estão mais barulhentos e intransigentes. A reação negacionista acontece quando a altamente contagiosa variante delta do vírus se espalha e passa a fazer mais vítimas preocupando, inclusive, os países com as medidas anti-Covid mais rigorosas do planeta, como China e Austrália, e voltando a causar mais mortes nos Estados Unidos.
O impasse da vacinação ganha colorações políticas de extrema-direita e revela uma vontade de conflito. De um modo geral, os manifestantes acusam as medidas de controle da pandemia, incluindo vacinas, máscaras e distanciamento social, de atentado aos direitos individuais e de “ditadura sanitária”. No último fim de semana, protestos foram registrados em vários países, incluindo Alemanha, Grécia, França, Inglaterra e Itália. Em todos os casos exibiu-se uma fúria insensata contra a vacinação e ataques contra os governos que reforçam medidas de controle. Em várias manifestações apareceram símbolos totalitários como a suástica e a estrela amarela de Davi que era usada pelos nazistas para identificar os judeus.

Na Grécia, onde a situação evoluiu para a violência, cerca de quatro mil pessoas se reuniram em frente ao Parlamento, em Atenas, pela terceira vez, em julho, para se opor à vacinação obrigatória dos trabalhadores da saúde. Na França, o movimento que questiona o esforço de combate à Covid-19 tomou as ruas de 169 cidades, incluindo Paris, e, em vários casos, também descambou em confronto com a polícia. Os protestos se intensificaram depois que o presidente Emmanuel Macron determinou que todos os médicos e enfermeiros do país se vacinem até o dia 15 de setembro, caso contrário não poderão mais exercer a profissão e receber salários. A data vale também para o início de vigência dos “passes covid”, documentos que atestam a imunização dos cidadãos e permitirão a livre circulação. Vários países começam a adotar esse tipo de passe tanto internamente como nas fronteiras. E isso, em breve, deve complicar bastante a situação dos não vacinados.
Nos Estados Unidos, o impasse da vacinação é especialmente grave e perigoso. O impressionante salto na imunização no primeiro semestre, a partir da posse do presidente Joe Biden, perdeu força nos últimos dois meses. Cerca de metade da população já recebeu as duas doses do imunizante e a outra metade não parece disposta a se vacinar, apesar da campanha do governo. O país chegou a aplicar uma média diária de 3,38 milhões de doses, que hoje despencaram para 566 mil. O problema é que os diagnósticos de Covid-19 voltaram a crescer – a alta foi de 144% nas últimas duas semanas – assim como a ameaça de recrudescimento da doença. Com o trabalho que estão fazendo, os negacionistas estão escancarando todas as portas para a proliferação da variante delta e para tornar a pandemia interminável.