Graças a sua linguagem inovadora e, por vezes, altamente psicodélica, o livro Ruído Branco, de Don Dellilo, sempre foi considerado uma obra “infilmável”. Noah Baumbach provou que isso era um dogma sem fundamento: a adaptação do premiado trabalho lançado em 1985 para o streaming é uma das melhores produções da Netflix até hoje. “Eu queria fazer um filme tão louco como o mundo está agora”, afirma o diretor. Lançado no auge da segunda fase da Guerra Fria, a história reflete a tensão que pairava sobre o mundo em decorrência da ameaça nuclear mútua entre EUA e a hoje ex-União Soviética. Em um enredo que combina o medo coletivo da morte e a crítica ao consumismo vazio, Dellilo criou uma das obras mais emblemáticas do século 20. “Meu pai me deu o livro quando eu estava na faculdade. Quando faleceu, em 2019, voltei à obra e percebi que Dellilo capturou perfeitamente o absurdo, o horror e a loucura daquela época. Poucas semanas depois, um vírus fechou o mundo. Foi quando veio a ideia de adaptá-lo para as telas”, afirma Baumbach. Com Adam Driver, Greta Gerwig e Don Cheadle no elenco, Ruído Branco conta a saga de uma família que tenta fugir de uma misteriosa pandemia, enquanto procura um remédio para curar o medo de morrer – qualquer semelhança com os tempos atuais não é mera coincidência.

Obra reflete “tempos perigosos”

Leonardo Cendamo

O autor norte-americano Don Dellilo (foto) definiu seu livro Ruído Branco como um retrato de “tempos perigosos” . Segundo o diretor da adaptação para o streaming, Noah Baumbach, a obra reflete diversos momentos da vida nos EUA e, por isso, continua atual. “Depois do 11 de setembro ou da eleição de Donald Trump, ele representa o risco que corremos vivendo na América”. Dellilo conclui, ainda que de forma mais otimista: “mesmo diante de uma persistente sensação de ruína, sempre voltamos a ter esperança”.