19/08/2022 - 9:30
Elaborar uma lista dos adversários de Vladimir Putin não é tarefa das mais difíceis. De Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, a Joe Biden, dos EUA, o autocrata coleciona inimizades em todos os continentes. Com a prisão do opositor Alexei Navalny, envenenado na Alemanha e detido na volta a Moscou, o título de inimigo número 1 do líder russo está agora com Bill Browder. O curioso é que ambos eram aliados até 2005, quando o britânico se rebelou contra as vantagens dadas aos oligarcas russos e denunciou as falcatruas bancadas com o aval do Kremlin.
À frente do fundo de investimentos Hermitage, Browder chegou a ser o maior investidor privado da história da Rússia pós-comunista. Ao denunciar a ligação do governo com a máfia local, foi expulso do país. Já na Europa, só não foi sequestrado e extraditado porque conseguiu fotografar seus algozes e postar a foto no Twitter ,quando estava no banco traseiro de uma viatura sem identificação, em Madri.


Ed. Intrínseca
Preço: R$ 57 (cada livro)
Parece um enredo de espionagem? Exatamente. A história de Browder serviu de inspiração para dois livros que lembram mais a experiência de um agente secreto que a de um investidor de 58 anos. Recém-lançado, Ordem de Bloqueio – Uma História Real Sobre Corrupção e Assassinato na Rússia de Putin é escrito no melhor estilo de thriller de ação. A trama sucede Alerta Vermelho – Como me Tornei o Inimigo Número 1 de Putin, que também chegou ao topo dos livros mais vendidos nos EUA. Para se ter uma ideia do ritmo alucinante da narrativa, as obras vão virar série para o streaming com adaptação do diretor Doug Liman, de Identidade Bourne.
Se Alerta Vermelho conta a fuga de Browder da Rússia, Ordem de Bloqueio narra o que aconteceu após o investidor estar na Europa. Depois que Putin o classificou como “ameaça à segurança nacional”, o Hermitage foi liquidado e seus executivos saíram do país. O autor chama essa decisão de “visionária”: meses depois, os escritórios da empresa e dos advogados que o apoiavam foram invadidos por oficiais ligados ao Ministério do Interior. Milhares de documentos foram apreendidos, inclusive os certificados que garantiam os ativos financeiros. A ação desencadeou uma série de processos por parte do governo. “Juízes corruptos aprovaram as alegações fraudulentas em audiências de cinco minutos e sem direito à defesa”, escreve o autor.
Os documentos apreendidos foram usados para um desvio no valor de US$ 230 milhões. Ao descobrir que Putin seria um dos beneficiários do esquema, Browder retirou de Moscou todos os advogados da Hermitage, com exceção de um: Sergei Magnitsky. “Imploramos para sair de lá, mas ele não quis. Acreditava que a Rússia estava mudando para melhor e que o Estado de Direito iria protegê-lo”. Estava errado: tempos depois, Magnitsky foi espancado até a morte em um presídio de Moscou.
Começa então a jornada para identificar os responsáveis, em meio a uma série de obstáculos plantados pelo Kremlin. De armadilhas sexuais a bancas de advogados ocidentais seduzidos por fortunas em rublos, Browder descreve suas ações como um improvável 007, sem a sensualidade de um James Bond, mas com algo em comum: a luta contra um vilão russo que tentará de tudo para silenciá-lo.