25/05/2018 - 18:00
Algumas ameaças em saúde pública demandam combate tão urgente que dispensam uma das regras de ouro da medicina, a que determina que os tratamentos sejam usados depois de terem eficácia comprovada e de serem aprovados pelos órgãos de regulamentação. É o caso do que ocorre agora, com o uso de cerca de 7,5 mil doses da única vacina em estudo contra o Ebola. O vírus reapareceu na República Democrática do Congo, na África e, desde o início do mês, fez 58 vítimas. Do total, 27 morreram. A gravidade do surto exigiu que as autoridades médicas recorressem ao imunizante, produzido pelo laboratório Merck e ainda em fase de pesquisa. É nele que se deposita parte da esperança de contê-lo.
O surgimento do Ebola é sempre assustador. O vírus é transmitido por meio de sangue ou do contato com secreções infectadas, o que torna sua disseminação rápida em localidades com condições sanitárias precárias, e tem alta mortalidade. Na epidemia na África entre 2014 e 2016, onze mil pessoas morreram. Neste ano, as condições são particularmente mais complicadas. A maior parte dos casos ocorre em uma área remota de Bikoro, pobre e de difícil acesso, e quatro casos ocorreram em Mbandaka, cidade com 1,2 milhão de habitantes, indicando alto risco de proliferação urbana. Além disso, muitos dos doentes são profissionais de saúde, reduzindo a força de assistência.
Desde o dia 8 deste mês, 58 casos foram registrados e 27 pessoas morreram
A decisão pelo uso do imunizante foi da Organização Mundial da Saúde. Ele foi testado em 16 mil pessoas e, em 2015, aplicado na Guiné em menor escala do que a atual. “A vacina será a chave para deter o surto”, anunciou Tedros Ghebreyesus, diretor da entidade. Sua eficácia é estimada entre 75% a 100%, índice inédito entre o que tem sido testado. A prevenção abrange ainda o alerta sanitário – nove países estão em atenção – e de barreiras epidemiológicas na região. Um desafio, porém, é combater falsas crenças. Na semana passada, três pacientes fugiram do hospital em Mbandaka, levadas pelas famílias para serem tratadas por curandeiros. Duas morreram. C.P.