20/04/2023 - 9:30
O essencial e muito complexo universo da cardiologia acaba de ganhar um novo aliado no combate às doenças que atingem o coração. Trata-se do mapeamento genético. A partir da análise desse teste, os cardiologistas estão conseguindo salvar ainda mais vidas. Quando isso não é possível, no mínimo consegue-se melhorar muito a condição de seus pacientes. O perfil genético, em resumo, apresenta ao médico características individuais das pessoas. São, nesse caso, problemas de saúde que foram transmitidos de pai para filho por gerações. A genética permite ao especialista observar enfermidades com ainda mais detalhes e com maior profundidade. Agora, mal súbito, hipertensão e infarto agudo do miocárdio, por exemplo, podem ser observados com esse moderno recurso. Quando se alia o mapeamento genético do individuo ao que já vinha sendo feito pelos cardiologistas, o resultado é a melhoria do tratamento do paciente em todos os seus aspectos. E, tratando-se de cardiopatias, ganhar tempo é primordial.
O cardiologista Sergio Timerman, diretor do Centro de Parada Cardíaca & Ressuscitação do Instituto do Coração, pontua que por meio do perfil genético é possível realizar uma terapia mais assertiva para pacientes que têm patologias advindas de causa. “É o que chamamos de medicina de precisão. A partir do exame podemos direcionar melhor os procedimentos e as chances de salvar o paciente aumentam.” Ele ensina que as alterações estruturais das funções cardíacas podem ter ou não causa genética e que a análise do mapa é essencial.

Tal avaliação foi feita no caso da aposentada Zoraide Molina, de 75 anos. Ela conta que, durante dois anos, seu coração apresentou funcionamento irregular. O fato lhe deixou de cadeira de rodas e, logo depois, acamada. “Sentia cansaço até para realizar mínimas tarefas pessoais, como escovar os cabelos”, diz ela. Demorou muito tempo para que o seu tratamento respondesse de maneira satisfatória. “Acompanhei-a todo o tempo e achávamos que ela iria morrer”, conta Lucia Helena Molina, filha de Zoraide. Após a avaliação genética da aposentada, tudo mudou. A conduta médica foi outra e hoje Zoraide voltou a ser independente e até dirige carros. “O mapeamento é uma ferramenta muito importante que permite a caracterização etimológica da doença”, afirma Fabio Fernandes, diretor do Grupo de Miocardiopatias do Instituto do Coração (InCor), que assiste a Zoraide.
Hoje, o perfil genético se tornou fundamental para responder questões a respeito de problemas de saúde que antes apresentavam algum mistério sobre sua causa. Também possibilita ao cardiologista escolher drogas que minimizam os efeitos colaterais e que fornecem melhor resultado. Contribui para prevenção de doenças porque, ao se saber que há chances de a enfermidade ocorrer antes que ela se manifeste, as possibilidades de vencê-la aumentam. A intenção agora é formar um banco de dados da população brasileira e assim saber o que é melhor para cada regionalidade.
Cura individual
Imagine o seguinte fato: duas pessoas que têm o mesmo problema cardíaco e usam a mesma droga para conter o seu avanço. Para o primeiro indivíduo, o remédio funciona perfeitamente. Já para o segundo, é como se estivesse tomando placebo. Com a análise atual, no segundo caso fica patente que o medicamento não faz efeito porque a enfermidade tem fundo genético. A situação, então, exige outro proceder do médico para mudar a história natural do paciente.
O dentista Luiz Horaguti, 69 anos, passou por circunstância semelhante à descrita acima. Com problemas cardíacos há 20 anos, ele realizou recentemente mapeamento genético e percebeu-se que o marca-passo que utilizava tinha de ser trocado rapidamente. Foi o que a cardiologista Veridiana Silva de Andrade fez. “No caso dele, havia risco de morte súbita. Com ajuda da medicina genética, optamos pela mudança de estratégia e troca do dispositivo cardíaco”, explica ela. Luiz Horaguti, agora, consome medicamentos específicos, demonstra muito bom humor e quer continuar trabalhando no mesmo consultório onde está há 45 anos.
