Maior símbolo do Império Romano, uma das sete maravilhas do mundo moderno e cenário de dezenas de filmes de sucesso em Hollywood, o Coliseu de Roma é, sem dúvida, uma das construções mais icônicas da humanidade. Erguido em 72 d.C, no governo do imperador Flávio Vespasiano, a obra transformou a cidade. A interação do público com os gladiadores, principais atrações do espaço, foi instantânea. Mas alguns setores do monumento nunca foram explorados. Pelo menos até agora.

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R$ 120 milhões
Será o custo da obra, que abrirá para visitação em dois anos

Em busca da expansão do turismo, o Ministério dos Bens Culturais da Itália, recentemente anunciou um projeto exuberante de modernização do local, visto que a arena milenar é a principal atração turística do país — recebeu mais de 7,5 milhões de visitantes em 2019. A empresa responsável pelas obras, a Milan Ingegneria, disse que o foco das modificações é um piso flexível de 3 mil metros quadrados, que cobrirá todo o solo da arena. Com isso, os visitantes poderão transitar pelo centro do estádio, mesma área onde os gladiadores lutavam, e também observar partes subterrâneas, como os “vestiários” e setores que acomodavam os animais ferozes. Antes, para chegar ao “Hypogeum”, parte subterrânea, era preciso ingressos especiais. De alguma forma, a reforma democratiza o acesso e possibilita a realização de eventos culturais, como shows e peças de teatro. O ministro italiano da Cultura, Dario Franceschini, considera o projeto de revitalização “extraordinário”, tal qual seu orçamento, estimado em € 18,5 milhões (R$ 120 milhões). “Você poderá caminhar sobre a construção e ir até o centro do Coliseu, ver tudo da mesma forma que os visitantes faziam até o final do século XIX”, enfatizou o ministro via comunicado.

GRANDIOSIDADE O anfiteatro foi construído há quase dois mil anos e é o maior símbolo do Império Romano (Crédito:Alamy)

Especialistas afirmam que apesar de manter parte original da estrutura, é preciso agregar traços de nosso tempo. “Eu acho a obra muito legal e super tecnológica. Todo mundo vai querer ter a visão que os gladiadores tinham”, diz o arquiteto Alexandre Fantozzi. Ele acredita que os italianos “estão de parabéns” pela ousadia. Em 2019, poucos meses depois do incêndio na catedral de Notre-Dame, em Paris, na França, Fantozzi enviou um projeto de restauração da igreja para os franceses e ficou entre os dez melhores do mundo. Ele crê no sucesso da empreitada pois considera os italianos menos conservadores em relação a seus patrimônios do que os franceses. “Deve ser uma emoção enorme pisar no Coliseu, isso certamente aumentará a receita com o turismo”, ressalta.

“Deve ser uma emoção enorme pisar no Coliseu, com certeza isso vai aumentar o faturamento com o turismo” Alexandre Fantozzi, arquiteto (Crédito:Divulgação)

Pão e circo

Adaptar-se ao século XXI é uma tarefa árdua e necessária para quem anseia manter sua relevância. E no caso do Coliseu não é diferente. Na época da construção, a população italiana era comandada por uma classe política autoritária. Como o povo, em suma maioria, era pobre, de certa forma o monumento servia para distrair e manipular os plebeus. Anestesiados pelas lutas mortais dos escravos estrangeiros, logo se desinteressavam por questões ligadas à política. Mais de 70 mil pessoas lotavam a arena para ver o espetáculo sem piscar os olhos. Hoje, com a influência incontrolável da internet, é quase impossível ter a plena atenção de alguém. Acredita-se, porém, que o novo tour no icônico espaço dê conta de atrair e apaixonar os visitantes, mesmo que momentaneamente.

A jogada do governo italiano é simples: se nas redes sociais parte dos usuários querem ser celebridades, agora também irão se imaginar sendo gladiadores. “Será comum as pessoas tirarem selfies para se sentirem lutadores. Não importa como era a vida deles”, diz o historiador Eduardo Baez, do sistema Anglo de Ensino. “Vivemos em ‘bolhas’, todo mundo quer seus 15 minutos de fama”, reforça. Para plebeus e imperadores, o Coliseu era sinônimo de espetáculo, já para gladiadores, um antro de dor. Todavia, em poucos meses a modernização trará o estádio aos novos tempos: a era do glamour e das selfies. O pão e circo do século XXI.